
.Vi realidade virar sonho
.Vi realidade virar sonho
Fui-me embora pra Pasárgada,que fiquei perdida por aquelas ruas,
que pinguei gota a gota como remédio,
que não caibo mais no vazio daquele mundo velho,
nem ele, insano e torto,
preenche minhas vísceras por completo.
[sou pensamento novo a cada novo segundo]
Bem sei, tentei de tudo.
Conheci Teerã à Madagáscar.
Escorri na rosa dos ventos e
ventei o grito nos cantos.
Quero a loucura da rainha!
Intensidade do não conhecer.
Prefiro ter asas, ver por cima,
o plano baixo me bloqueia os olhos.
Prefiro ver em outra parte, de lá,
acompanhada pelo rei
na cama que escolherei.
Construirei a civilização aventureira
no rio, na bicicleta, nas histórias .
Arrumei minhas malas.
Recheei sonhos mofados com coragem lavada,
observei e estudei os mapas.
Não me espere para o café,
talvez não haja retorno.
Venha logo Manuel.
Estarei acontecendo!
Fui-me embora pra Pasárgada.
alusão a "Vou-me Embora pra Pasárgada", Manuel Bandeira.
Um dia, todo mundo quer ir pra lá.
"Se estás no balanço, balança. Sonho é realidade bem vivida.".
Seria contrariar a verdade se dissesse me lembrar minuciosamente do primeiro encontro que nossa mãe programou para nós, meio assim, cheia de entusiasmo e medo. Eu vagamente enxergo vultos como imagens delicadas de uma criança, pequena e gorda, na minha frente.
Venha ver o que ele comprou para você!Fui logo apressada, curiosa e interessada no embrulho presente sobre a cama. Sim, era belíssimo, encantador. Poderia dormir e acordar com tantas peças, móveis minúsculos e bonecos ao meu lado. Montava e destruía as casas fantasiosas que surgiam em meu mundo infantil. Completa criatividade, eu moraria junto com o brinquedo, se coubesse na caixa. Bem sei, reconheço o quanto me apaixonei por aquele presente. Como ele poderia saber perfeitamente o que gosto? Era apenas um menino novo, novíssimo, não falava, não andava, não corria, não saía, só chorava, só chorava e cagava. Mais tarde, quando os anos vieram roubar um pouco do meu encanto e ilusão, percebi que a escolha não tinha sido feita por ele. Mas, o que é isso? Ele tem uma pinta no braço? Sim, e o médico falou que nem precisaria marcação ou identificação. Este era originalmente original de fábrica. Mãe ria, sorria. Eu a acompanhei em seu gesto, ri e sorri encarando o menino da pinta. Faltou tocar sinos, porque ao examiná-lo, contando cada linha e atravessando seu corpinho com meu dedos de cinco anos, entendi o verdadeiro sentido de amizade. Então, finalmente notei o grande presente que tinha ganhado. Aquele bebê, aquele bebê seria meu presente para a vida toda, um tesouro, sem mapas, histórias, um tesouro não escondido, um tesouro na vitrine, exposto, em órbita, nu, espalhado, solto, livre. Constituído não de ouro e diamantes, mas de você, meu moreno, um tesouro todo meu de Filipe.
[Te amo]
Não adianta, minha nega, todo mundo já percebeu. Inclusive lá em casa estão comentando. Está transparente e decifrável. Está no ritmo dos quadris, no brilho dos seus cabelos, na cor morena demais da sua pele. Não adianta. Está no ar que expira modificado, tão filtrado, um novo perfume. Nessa coisa toda um quê ímpar, completamente seu, privado. Voltou no tempo, voltou? Pois parece que voltou à idade flor da vida. Como se recolhesse os frutos e revolucionasse os sabores. Você não me engana mais. Descobri a fundo seu segredo em uma traição própria: ele revelou-se. Entendo, flor, não há hora ou data marcada para ser feliz, mas peço humildemente que dissolva esse tanto de poesia no chão ao passar. O céu claro demais, o sol quente demais tem sede de ti. E eu cá, estou cansado. Diferente do que vejo, esses móveis são obviamente mais velhos que eu, mas andam com postura ereta melhor que eu. Não ria. Apesar do riso ser a expressão habitante na face dessa ousadia juvenil. Declaro a incógnita exposta. Você não me engana. Já descobri porque está assim tão leve, jovial, solta, o andar quase bailando pela principal. Pare. Causa ciúmes no velho. Agora vá! Vá vestir um pedaço de pano que cubra essa felicidade toda!
Quando crescer quero fazer poesia na borda de vestido rendado.
Escrever rima no muro
ver minhas palavras colorindo o papel
alegrar pequenas cabeças
gritar nas bocas
entrar nos becos.
Como doce em tarde de criança
como sofá em casa de vovó
como futebol em domingo de pai
como feto em útero de mãe.
Quero ver colorir colorido
à guache, à óleo, à crepom
fazer poesia em pele de moça
E crescer como a poesia.
A poesia de mim que hei de crescer completamente louca!
Vivi ou vivereio caminho que finda num pedaço de céu,onde folhas secas caem mesmo no verão,onde o calor e o frio agitam ar em balé,e vento preguiçoso acaricia o mato crescido na beira da
estrada.Vejo olhares desconfiados a bordar o chão em passos.Estes passos seguem uns aos outros,sem pressa de ir. De chegar.Sinto gosto do chocolate quente na caneca floridaaquecendo lábios e coração.Abraço todo espaço no abraçovazio sereno completo.Fotografia ficou branca de sonhoque fechei forte os olhos para só sentirdesejo.Foi a paz boa de ter,foi amor virar solução,foi nossas mãos parecerem ter dado nó.