segunda-feira, 24 de abril de 2017

bilhete adolescente

Ouvi dizer que entre Minas e Rio há um abismo. Janeiro passou. Passou fevereiro. Passou carnaval. Não vi girassol bailar em festa nem sol brilhar em céu. Cá estamos andando entre cacos. E por mais tempo que tenha passado, por mais histórias que tenhamos vivido, haverá sempre um beijo a ser dado quando a gente se (re)encontrar.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Eu sou uma canção de Belchior,
Eu sou uma cama bagunçada.
Eu sou um amor mal resolvido.
sou muita vontade para pouca coragem.
Eu sou uma estrada.
Eu sou uma risada perdida.
Eu sou o vinho seco.
sou banho quente com vela vermelha.
Eu sou um incenso.
Eu sou um troca troca de roupas( de faces, de opiniões. de desejos)
Eu sou uma solidão em meio aos homens,
sou muito avesso para pouca pessoa.
sou tanto avesso que quero desvirar.

Eu sou um aquário vazio cheio de ar.
mesmo que as vezes me falte
o ar.

domingo, 9 de outubro de 2016

Relato sem fundamento no domingo.

Parei para ouvir Drummond neste fim de domingo, e não sei bem o porquê, mas lembro do menino no metrô. Tinha os seus 7, 8 anos, os olhos cor de mel, cabelos crespos e ar de curioso. Olhou-me ávido. Logo firmou ao perceber minha jaqueta jeans amarrada na cintura. Sentou-se ao meu lado quando vagou o banco e olhava, tentando ser discreto. Se há algo que bicho criança não consegue é disfarçar. Se há algo que me deixa alerta é ver criança com cara de não sei o quê.  E a jaqueta era o foco. Ele tinha uma jaqueta jeans amarrada pela cintura como a minha. Talvez pensasse: como ela, moça, tão moça, veste como eu? Ou como eu, menino, tão menino, visto como ela? (Entenda-me, leitor, este pensamento não é de criança, era o meu.) No máximo ele: uau, estamos iguais. Ou vá lá saber. Percebo que saltam cheios de brilho e sorri assim: de lado com cara de gente grande. Eu sou o maior. Senti-me tão tão engraçada e ri também toda por dentro. Tinha minha idade dividida por 4, e a mesma jaqueta na cintura. Eu ria tanto internamente que já não sabia  onde começava o menino, onde eu começava. Éramos dois personagens no transporte público do domingo azul dia de feira e íamos não sei onde com jaqueta azul na cintura de onde tiramos isso moda não entendo porque mas eu tenho 26 e ele 7. Mãe, vamos saltar aqui? São Francisco Xavier. Sim. Segui viagem sem saber se havia saltado também.
Sabe, aquela jaqueta, aquele menino,aquele sorriso. Nunca imaginei que moda me fizesse sentir algo assim.

domingo, 2 de outubro de 2016

Quer café comigo?

Tudo que escrevo sobre você eu apago. Permito-me agora tentar. Simples a nossa maneira – apesar de nos julgarmos complexos.

Silêncio. 

Perdoe o silêncio.
O silencio é a minha primeira manifestação de afeto. Calo-me para ouvir-te. Calo-me para observar. Aos calarmos é possível escutar o coração, a alma. No silêncio não há mascaras, estamos nus. Mineira que não sou, no início desconfio - há o pezinho nas Gerais. Já já me derreto todinha. Chove lá fora, está frio, como estão as coisas, tudo na mesma, quanto tempo, certo.

Beijamos.

Não há o não, não há nenhuma razão. Percebi teus olhos brilharem quando soltei o cabelo.

Somos peças de um quebra-cabeça, te reinvento e moldo a todo momento. Uso as cores que mais gosto: você projetado num filme. É como ser desafiada a descobrir algo oculto, uma história de livro, um mistério. Insisto, pois ainda quero ler. Talvez, seja algo como o amor, mas não devo definir o que eu não sei.

Tua voz combina com meu texto. Fico bem vestida na tua pele. Minha boca cai bem na tua. Nossas mãos são como velhas amigas. O teu sexo nasceu para o meu. Nosso café tem o mesmo amargo. Os únicos defeitos são os quilômetros e o cansaço. Posso ser cúmplice e amante e mãe. Todas cabem. Abraça-me forte, no teu peito eu renovo. Eu aceito, aceito rodar o mundo, escalar montanhas, mergulhar em mares escuros, ou uma cerveja no bar da frente. Eu aceito. Aceita? Vamos juntos. Viver não tem idade. Vê com teus olhinhos o quanto é gostoso o nós dois e volte. Diz que sente saudade, diz que quer me ver, conta tuas novidades, problemas, os assuntos chatos para mim interessantes. Podemos dividir o lençol. Faz sorrir porque sorrindo é mais bonito. 

Fui à padaria sorrindo e estarei sorrindo a semana inteira. 

Você sempre será meu sol de carnaval.  

domingo, 22 de maio de 2016

The end

Algumas histórias de amor não foram feitas para dar certo,
mas sim para virar poesia. 

terça-feira, 15 de março de 2016

14:21

 O tempo é dono das leis do mundo. Um dono miúdo, um dono menino. Estamos sujeitos às suas indagações. Sabido e traquinas brinca com os deuses. O tempo tem a bisbilhotice dos olhos do menino. A loucura da mente do menino. O ardor do corpo do menino. O absurdo dos desejos do menino. A simplicidade do sorriso do menino. O mistério do coração do menino. O tempo é inteiramente menino. Na praça, na escola, na cama, no colo, no peito, em si. Jamais o tento captar, pois alem de menino é vento. Por vezes brisa, noutras tufão.  Além de menino é água. Por vezes lagoa, noutras redemoinho. Além de menino é terra. Por vezes fértil, noutras secura. Não se pega, se perde e gasta. O dono singelo das coisas e não coisas, escrito pela ciência como relativo. Como medir quanto tempo dura o tempo? Caberia no ponteiro de relógio? Todos esses segundos desperdiçados em palavras podem ser me cobrados, caríssimos. Como medir o valor do tempo? Compro em balas? Menino, criança, gigante que passa deixando marcas, vá com calma, não corra na beira da estrada, há perigo logo ali e você é jovem. Deixe-me saborear suas brincadeiras e seja meu anjo. Pegue o giz e desenhe meu caminho até o céu. Menino, desta janela do oitavo andar, o admiro. E só quer saber de olhar saias de raparigas, jogar pipoca aos pombos, assustar os velhos, fazer tropeçar os casais. É um dono bagunceiro que revira nossa vida só para organiza-la depois. E depois de depois, desarranja as peças. O tempo faz do homem eterno quebra-cabeça. 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Acorde maior

Odeio despedidas.
Adoro encontros.
No encontro o saboroso é o primeiro abraço que se dá.
Às vezes dá vontade de ficar dentro dele por meses, morar nele ou vesti-lo em dias frios de julho como um casaco quente feito à mão. Por isso adoro.

Aposto o oposto.
Não prometo porque não cumpro, mas me desafio.
Reviro ao contrário o avesso, enlouqueço, e no fim canto o refrão.
A letra completa inspira a memória fraca pra idade.

A saudade me amedronta.
A vontade me encoraja.
A verdade me recusa.
A solidão me acalma.

Estar só e não incompleta!
Estar só pensando.

Há abstrações que levo comigo: o que digo.
Sou abstração.

Amo sol morrendo, milho, cogumelo na comida...qual é mesmo o ritmo?
Marcho pra fazer paz e não curto quem morre em vida.
Curto o longo e prolongo o curto.
Posso dizer: venha cá, amor, só não se enrosque no pescoço.
Não sou romântica, obrigada.
Mas,
mesmo sem fama, meu canto
encanta.
Basta querer ouvir.
E bem de perto.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Infração

Não fiz mais poemas desde que me mudei para a cidade grande.
Confesso, dia desses, tentei.
Mas o poema colou na traseira, buzinou, buzinou, e aos berros,
me ultrapassou pela direita.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

¿

Quando o comum cansa
Vire do avesso
sojieb

sábado, 11 de janeiro de 2014

O ciclo

Serei breve pois brevemente as vozes se passaram por mim.  E esclareço, antes de favoráveis complicações, que a apressada história não tem em Estelinha, Sérgio e Cláudia os protagonistas. Muito menos nas vozes. Aqui se fala de algo maior e um tanto desagradável.
Da poltrona 17 ouço a primeira voz trêmula e triste suavemente noticiar ao telefone: a Estelinha; hoje a tarde; sim, estava no respirador; vou colocá-la junto com mamãe.
Interrompi a leitura enquanto a segunda voz radiante e firme anunciava também em seu aparelho móvel: Sérgio! A Claúdia! São gêmeos!
Uma inquietude morou em mim. Pensei até doer os ossos do crânio, mas esta história não é sobre mim ou meus pensamentos. Nem sobre Estelinha, Sérgio, Cláudia, os gêmeos, as vozes, a poltrona 17. Desejo não poluir as reflexões do meu leitor com minha próprias. Se me estender em qualquer palavra roubo a beleza desta breve história. Opto por termina-la sem conclusão.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Viver dói.
Mas se não provar do amargo, como reconhecer o doce?
Viver dói,
mas ainda é caminho.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Tudo

O amor é a pedra que você tropeça com pressa.
Mais.
O pássaro de asas brancas que plana sobre seus olhos.

Repousa e invade e renasce disforme.
Quem o toca?

O amor é  brisa de domingo
A chama do fogão.

É pontual e surpreendente.
Uma paz ou uma guerra.

Aquele pássaro de asas brancas que plana sobre seus olhos.
                                                          ( mas você não o vê)
Aquela pedra que você tropeça com pressa.
                                                           (e reclama)

Somos todos.
Ele anda por aí disfarçado de coisas e gente.

Aquela flor entre tantas outras também é o amor.
O piano que me acaricia doce  é o amor.
A roda do mundo é o tal.

O pássaro de asas brancas que plana sobre seus olhos e a pedra que você tropeça com pressa.

Silêncio.

Atrás da cortina, embaixo da cama.
Escondido, o amor transcende.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

23 e 4 meses

Hoje me dei um presente incrível: coragem.  Cuspi um bolo de tristeza que coçava a garganta como um gato e sua bola de pelo. Na verdade, não estou curada. Ainda. Mas já tenho o remédio em mãos. Basta tomar a dose certa na hora certa, seguindo todos os conselhos do doutor tempo. A vida doí tantas vezes, a na mesma medida nos acaricia. Paciência. Pessoas vem e vão, vem e vão. Não duram para sempre - e aqui falo, de forma fria, além da morte, esta pergunta ingrata, também da vida; mudanças, encontros, despedidas. É obscuro e grandioso compreender o papel de cada alma que passa por nós. Em janeiro ou julho, na segunda ou quinta, num minuto que cruzamos pela rua. Dentro de um momento gigante ou pequenino, porém infinito ( sim, o aprendizado é no infinito) seguimos, e o outro também segue. Agradeço a um amor de novela que me virou a cabeça e me fez acreditar que vale a pena. E assim passou, o amor pessoa, sem ressentimento nem sentir muito. Estou grata ao leão que me protege com sua firmeza e constrói a fortaleza em meu país. Este leão também veio, alimentou-se de meus peixes, e foi. Eu o carregava em meu peito, muitos quilos pesava. Estou pronta para recompor meu aquário. Hoje me dei um presente incrível: coragem. Fiquei livre. Leve. Só levo comigo algo que faz flutuar: liberdade.

ainda sobre perder-s(onhos)e


Logo que perdi o endereço, perdi a força,
o caminho,
a vontade,
as pernas.

Ali,
parei.

Se bem que meus sonhos ainda acreditam em mim.
E ainda bem que acreditam.
Eles me acharam!

segunda-feira, 25 de março de 2013

Avô

Vi uma nuvem em cores no céu.
 Ouvi boatos: lá mora um anjo de olhos brilhantes e todo 25 de março ele renasce. E renasce também uma saudade bonita e apertada nos corações que um dia receberam sua benção.
Avô, em três simples letrinhas cabe o maior sentimento do mundo,o tal do amor.

quarta-feira, 20 de março de 2013

o manto

Faz frio no Rio e um coração está ferido.
A tristeza é o manto.
Faz frio e ainda é quarta.

Ainda é quarta. Tenho olheiras. Não descanso.
Um dia triste nos envelhece anos.

Sexta, não esqueça as flores

Dentro do embrulho, talvez o menor bilhete do mundo também era a maior dor. Um recado decifrável, nas entrelinhas. Leu. Leu. Leu. Sentiu-se como um risco torto que basta apagar. Mais uma noite em insônia e enlouqueceria, mas pôde chorar em paz, no seu silêncio, até adormecer. Mensagens e contatos e fotos, nada restou, apenas o bilhete. E agora, meias palavras livres, escorrendo dos olhos dos dedos, as últimas. Alguém as lerá, se importando ou não, mas lerá pela última vez. No fundo, não era seu desejo. Mas só restava lembrar das flores. Sexta, não entre no jogo sem as flores.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

E aos vinte e poucos anos ainda me sinto um molde. Como aquela revista de desenhos para colorir. Mas por mais que fora esteja em preto e branco, é dentro que precisa estar em cores. Morri neste momento.  Morri pra nascer de novo. Morri porque precisei. Voltarei com outras asas e outra chance de amar. Tanto pra conhecer, ler, escrever, viver. Sim. Morri hoje porque ainda quero viver.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Nosso amor estava escrito?

.
Começar com um ponto final me dói inteira.
Questiono as estrelas. Talvez elas não saibam tanto quanto contam na última página do jornal de domingo. E talvez prever o futuro seja escolher o próprio caminho. Pois destino também é escolha. Temos o mesmo céu, mas você é estrela e eu, pássaro. Você sol, eu vento. Eu, aquário; você, leão. Nas idas e vindas de uma estrada nossa dimensão se perdeu. Vá saber quem desfez nosso nó ou se  foi desfeito. "Existe amor sem dor? Dizem que a paixão dura três anos". Se assim for, hei de sofrer por um tempo, broto. O vinho ainda corre nas minhas veias.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Carta um

Querido T.,

Cai o céu no Rio e lembro nossa conversa sobre borboletas amarelas e andorinhas voando baixo (devem ter passado por aqui). Estou certa? Faz mais de ano e sabemos a minha doce mania de esquecimento. Chove um pouco aqui dentro do quarto e de mim (Buba insistiu para escrever isso). Há tempos queríamos contar as novidades. Sim, mudei para capital, minto, para a cidade vizinha, e não, não gosto dela. O trânsito é péssimo, a rua cheira peixe e não tenho onde guardar as roupas. O dia realmente está branco e cinza. Encontrei um par, mando-lhe fotos. A faculdade, uma novela. Hoje vou ao centro carioca ouvir boa música e espero que a chuva não me desanime. Não tive bons dias, estou vazia, com saudade, transbordando em pensamentos. Sinto falta de você me levar para casa ou ir a Penedo comer truta na beira da cachoeira. Sinto falta de você me contando coisas além da vida, dos planos e viagens, quando eu podia me esquecer. Contudo, não me responda. A carta é uma vontade egoísta de desabafo, prefiro manter a projeção criada. Queria o silêncio que tínhamos e tanto era incomodo. Queria um conselho de quem amou demais e perdeu tudo. Você sempre foi forte. Queria o jeito bom de ser amigo, e queria, como sempre, ter 12 anos.
Preciso mudar de casa e corpo e alma para um abrigo mais leve. Desconheço-me há dias. Estou sofrendo, perdi vontades, não sei se amo, não amo, amo, não, não sei, e dói amar.
Fico aqui mais seis meses, no mínimo. Venha me visitar! Podemos ir ao Corcovado e Copa, faz bem distrair a cabeça. Traga também Gustavo e os meninos, eles são ótimos, divertidos. Passo pela sua cidade linda quando for a Inhotim e tomamos um cappuccino com pão-de-queijo, boa? Parou a chuva, o sol vem tímido. Está abafado no Rio e não vejo o Cristo, tem muita nuvem.
Buba manda  beijos e promete cuidar de mim.
(ele precisa de um banho e eu, de paz).

Mariana.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Quebra

O amor não é aquele que tudo pode e tudo supera e tudo salva.

                                                           [julguem-me]

Este é o respeito.
Que também é o ar e o chão.
Sem ele, o amor não respira; não caminha.

O amor constrói e destrói.
Só o respeito sustenta.

domingo, 2 de setembro de 2012

" Solidão

não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente... Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto e circunstância! Solidão é muito mais do que isto...SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma."

(Chico Buarque)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012



Não tenho escrito e isso me dói um tanto.

Eis que caminha uma ideia em minha direção, e eu logo animo. Desperto, a fotografo vindo, cada vez maior. Mas algo me atormenta, pois a ideia vem disforme e esfumaçada, cega-me e passa. Tem sido assim todos os dias. Esta dor intermitente de quem parece não mais sentir, mas ainda sente.

Sabe, não escrever, dói muito.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

transformação

dia desses
subo nua a rua
fumo uma droga
tatuo o corpo todo
planto flor no asfalto
só uso batom vermelho
e de amarelo pinto a casa
viro índio da Amazônia
nasço um passarinho
mudo pra Trindade
vivo por poesia
conheço a lua
fico louca


ao fim desse dia
quem sabe salvo o mundo ou dele me salvo?



quem sabe apenas durmo?
                                                                            [tenho dormido todos estes anos]

talvez eu sobreviva a mim
não por ser água mansa
mas por ser a própria guerra.


terça-feira, 24 de julho de 2012

O amor está sempre de malas prontas e passagem comprada. De ida ou volta, vai saber.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Não escrevo, não vivo.
Falta tempo ou inspiração?
Tempo, tempo, tempo - repito o quanto necessário para ver se me convenço.

Dói menos.



quarta-feira, 27 de junho de 2012

Melancolia

Sinto uma saudade imensa de mim. Fui embora sem deixar vestígios ou bilhetes ou perfume ou fotografias. Sinto-me diferente: opaca, triste. Talvez o tempo tenha me dado rugas. Mas elas estão por dentro e sabedoria não é melancolia, sem enganos. Meus sonhos estão diluídos. Estão menos.
Eu não era dona desta fraqueza. Não sentia falta de ar, a não ser quando gargalhava até doer os ossos.
Não sei onde pus meu brilho. Teria sido furtado por estrelas? Teria sido eu uma estrela que se apagara? Sinto uma imensa saudade de mim. Do tempo em que eu vivia sem vergonha e me coroava corajosa. Tenho medo de não ter ido apenas embora. Tenho medo de ter me assassinado. Preciso de outras asas, outros navios, outras armas. Estou parda. Estou  farta. Sem farda.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

mulheres.






- Quer?
- Não gosto do seu café.
- O que há de errado com meu café?
- Sem um grama de açúcar.
- Mas se nunca provar do amargo, como reconhecer o doce?
- Eu não estou falando da vida, querido.



- Eu também não estava.
- E pra quê amargar mais a vida  que já está amarga por si?
- Amor, eu não estava falando da vida.

- Ou eu quem estou amargando tudo o que vejo?
- Querida.
- Talvez eu seja um café seu. Isso, só posso ser um café seu.
- Amor,acho...
- Deste, bem preto e puro e ah, amargo.
- Acho melhor você não beber isso.
- Acha?
- Você precisa de algo bem doce.
- Preciso?
- Que tal um chocolate bem quente?Faço para nós.
- Ah, já que você diz.

terça-feira, 1 de maio de 2012

(en)canto

Enquanto deito,
o mundo acontece.
Só eu me esqueço.

No canto quente
do quarto quente
do corpo quente,
o coração frio
não sente.

Tento.

Sente-se.
Enquanto num canto
qualquer do mundo
me deito.

Espero.

Dói a morte,
espera infinita
de quem em seu canto
já se perdeu.




segunda-feira, 16 de abril de 2012

Perdi o endereço dos meus sonhos.

...?

?...

E agora, aonde vou?

domingo, 25 de março de 2012

Vô de volta.

Hoje eu troco meu samba, sal e sol por sua
mão.
Hoje troco estrela, risada, besteira, filme, pipoca
e até namoro por seu olhar.
Estou trocando minha poesia, meu café, meu pôr-do-sol.
Dispenso a flor, o amarelo,
o vinho.
Macarrão e chocolate não me satisfazem, tenho fome do seu abraço.
Hoje eu troco o silêncio e toda paz que já conquistei
para ouvir uma única resposta com sua voz:




Deus a abençoe.

domingo, 11 de março de 2012

Cada homem tem seu deus ou é seu próprio deus. Não há razão ou verdade nesta história de céu e inferno. Mas há um erro: pensar ser deus de outro homem; pensar ser dono de outra alma ou capaz de definir destinos, riscar terrenos, subestimar costumes e roubar a vida alheia.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Temos Carolina

Se porventura nos faltar o sol ou os caminhos se alinharem; se ao acaso o ar enrijecer e o bom humor cavar a sepultura num ato insano e perplexo.
E ainda que, por ordem de deuses, o homem fique mudo diante da morte, da fome e da guerra, temos uma chance. Uma única.
Temos Carolina.
É nossa, só nossa Carolina. A menina-mulher feita por risco suave e colorida em aquarela saiu apressada do papel, se fez real, e subiu na pedra mais alta para sorrir, puramente, o que ama fazer. Não era preciso sol. Jogou então os cabelos encaracolados sobre o mundo, retorcendo as estradas, pois rumo reto não faz canção.
E mesmo quando a sombra do universo resfriar o coração do homem, se Carolina vier, encantada, aos passos saltitantes, haverá esperança. Juro. Sinta.Você precisa conhecê-la. Veste alegria e maturidade.
Eu a chamo Carolinda, pois através de seus olhos vejo tudo mais bonito.

Com amor,
para Carolina Vitola.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Latejo

Eu quero as respostas; a receita; o ponto final. Seria fácil ter um índice para abrir na página x e ler o que fazer. Mas a vida, meu amigo, não nos oferece este livro de soluções. Pelo contrário, a cada capítulo um novo enigma; a cada página um mistério; no final de cada frase, a interrogação. Deve ser por isso que viver exalta sensações, às vezes exigindo silêncio e ação e um pouco menos de filosofia. Instigar a mente, sempre! Nada mais belo que o pensar. Todavia, é preciso sabedoria para conter-se, falo mesmo por mim. Ando à beira de enlouquecer, overdose de reflexão. Tinha utopias, quis realidade; tive realidade, quis utopias. Céus, não é possível morar em cima do muro? Se eu tivesse as respostas, não as tornava públicas e o divino pune meu egoísmo com mais questões. O momento é indefinível, incompreensível. Eu não entendo. Enquanto há vida, resta-me buscar equilíbrio, busca eterna. Ou quem sabe render-me a loucura palpitante, venenosa...
e dela beber até a morte.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Liberdade

Poema bobo de bolso,
evolua a uma explosão rara.
Como conter a mente extemporânea?
Como invadir o coração poeta?
Palavra, coragem!
Já é tempo de voar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

No meio do caminho tinha uma saudade
tinha uma saudade no meio do caminho

abaixei-me, peguei a saudade e a guardei no bolso
segui em frente

quando cheguei, depois de muito caminhar
lancei a saudade na mesa

e a comi num segundo com arroz e feijão
temperado a la mamãe

é
eu estava em casa.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

além.

"[...] estou procurando. Estou tentando entender." Mas eu paro e penso e logo descanso. O entendimento me consumiria; escolho viver, apenas,
algo muito além.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Presságio


Dizem os astros:
"Dezembro é mês de colheita. Não queira frutos grandes e saborosos se plantou sementes secas e tristes. Dezembro é mês de colheita. Mas não espere nascer margaridas de sementes de ervas daninhas."
E eu, antes descrente, reli o mapa completo para reconhecer o caminho que fizera até aqui, ao nada; a um lugar do qual a maior vontade é não estar ou voltar. E eu, antes a julgar posição de sol e lua mero clichê de data, passei a realizar simpatias, tomar banho com essências e sais, e apelar para as estrelas, estas luzes consideravelmente distantes no céu. Tão distantes quanto eu mesma de mim, segundo previsões de todo o Dezembro.
O que me resta é fazer oferendas para que Janeiro venha exibindo alegres asas, e enfim me liberte deste aquário, com vida. Aquarianos tem destas confusões, me informei: ás vezes bebe da água, ás vezes se banha, noutras molha terceiros, noutras mergulha e se afoga.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade


Que chegue tarde do negro,
numa oblíqua madrugada,
lance-se janela adentro,
encha-me de sonhos
e cores para abrir
os olhos e saltar
destes, a alma:
amor.



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

De confusões e vícios

-Ai, que vontade de um cigarro. Pensou Anna. Descansou o corpo na porta da varanda e inclinou a cabeça sobre o ombro esquerdo, como de costume, de forma que tivesse uma visão privilegiada das luzes da rua, do quinto andar, da chuva fina. Uma visão distorcida do seu cotidiano e de qualquer lembrança rotineira.
-Ai, que vontade, ai. Insistia o pensamento, os lábios, e o corpo no vício.
Fizera as contas da noite e podia prever as conseqüências do quebra-cabeça de erros que cometeria se envolvendo nesse embrulho misterioso que a paixão estava oferecendo, ali de braços e mãos nuas. Nunca fora boa nessas coisas: tudo ia bem e ela desaparecia do mundo. Nenhum telefonema, e-mail, carta, sinal de fumaça. Em seguida cobria-se de uma solidão civilizada, companheira e até conselheira, que se acomodava no lugar do livro de cabeceira, ao lado do copo d água, de onde poderia acariciar seu sono. E assim acontecia, sem novidade alguma. Tudo ia bem e ela estragava. Fidelidade e ela estragava. Romantismo e ela. Bom gosto e ela. Mas desta vez, uma assombração surgia na paixão, além de um instinto sobre a vitalidade e rigor daquela vitamina. Um sentimento bastante distinto dos outros pequenos e estúpidos que costumava sentir, os passatempos, pirulitos de criança, novelas de avó e piadas de palhaço. Esse novo vinha com cara de medo, pernas de entusiasmo, mãos de expectativa, corpo de fidúcia, mas muitas desconfianças pintas na pele. Era um ser-sentimento monstruoso. E o leitor pode sonhar com ele ao dormir, caso tente visualizá-lo. Parecia um abismo desafiador: dor no salto, prazer na queda, decepção no fim.
- Estou fazendo de novo, de novo. Paixões, vontades, problemas, criando problemas. Lembrou de dona Mariana, mulher vivida, falando algo sobre ser preciso cautela e astúcia, encarar um amor com igualdades, nada de opostos se atraem, mas sim os dispostos...e palavras e palavras tremidas. E agora, como será? Como será se somos diferentes? Sentia um peso nos pés de quem traz consigo uma montanha de incertezas. Mas “o amor faz as igualdades, não as procura”. Talvez dona Mariana apenas pense diferente, mesmo não tendo as cartas verdadeiras do jogo. Oh, do que estamos falando? Amor é assunto de próximos capítulos, por favor, acabamos de começar.
-Não sei se me jogo ou contenho. Cutucava a cuca. Calou-se em luto por sua psicose. Já passava das onze e estava esfriando. Sabia que mais cedo ou mais tarde iria lançar a sorte. Jogar como dardos si mesma e pimba, vamos ver o que virá. Viesse o que viesse, enfrentaria. Assim como tudo, mesmo afrouxando a base. Se fosse para ficar, que ficasse da melhor maneira e doaria sua alma. Se fosse para passar, que passasse da melhor maneira e doeria sua alma, mas não tanto a ponto de matar. De melancolia também vivem grandes personalidades e incríveis idéias nascem do pesar. Já passava das onze, o amanhã seria ainda quarta-feira, agenda cheia. Anna precisava dormir por 48 horas seguidas, sem exagero, mas antes de tudo, só queria um cigarro para relaxar.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Em gotas

Oh céu,
agradeço o respeito de chover quando me chovo, caindo pouco a pouco tal qual a coragem que o mês, faminto, devorou. Desobrigo-me a gritar a angústia desta cabeça cansada e perdida. Compreendo o lamento. Sem esforços para sofrer, sofro, sem sono para dormir, durmo, sem vontade de ter vontades, não as tenho.
Portanto, adeus.
Fui para um fundo de gaveta.
Até meados de dezembro, a ordem é esquecer-me.

E nada mais.

domingo, 20 de novembro de 2011

Sambrasil

Rodou de pés descalços
na roda desse samba
uma mulata
a Bahia
era Brasil parindo brasileiro

Chamou negrinho esperto
pra fazer realejo
e amaralina ficou azul
confundindo-se com o céu
conto romântico de tetravô
hoje é engraçado de se crer

Ouvi palmas, berimbau
que não é gaita não senhô
muito é de cor
forte e suada
sangra escuro
energia moral

Berro na alma:
o país verde e amarelo
é mais preto que noite de lua preguiçosa.

Viva a mãe terra
Raiz que te criou!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sim, eu sei o quanto lhe pareço só; e só sou. Mas com licença, meu amigo, que solidão não é motivo para infelicidade.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O maior desejo


Naquela noite, diferente de quase todos os homens, que escrevem seus nomes na areia, eu bordei com os dedos as letras do sentimento do mundo e da mente. O sentimento do mundo e da mente carrega uma ímpar essência que poucos sentem e se sentem não sabem e se sabem não falam e se falam não são ouvidos. Tão ausente no século das máquinas ou mecânico ou diminuído para caber nos outdoors de uma cidade grande como, sei lá, São Paulo.
O sentimento do mundo e da mente move o próprio mundo e a mente, mas raros o notam. E deve ser por isso que as ideias ficaram mudas, estáticas, e nada de novo alcança.
Cansei e por isso escrevi amor.
E assim: a-m-o-r. Escreveria ainda sete vezes: amor amor amor amor amor amor amor. Devia ser nosso vício, o alimento dos seres. E o que é?
Amor, pois acredito. Ainda mais na areia, com a velha história de o mar apagar e fazer dar certo. Tem sido o meu maior desejo, para mim, você e os outros, em 21 anos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Preciso de um amor. Urgente, urgente.
É assim que fui e assim que volto: precisando de uma amor nessa vida seca que me bebe toda.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Nova casa

Mudei meu abrigo para www.entrecafesepessoas.blogspot.com

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

-Boa tarde.
-Boa tarde, meu amor. O que vai querer?
-Um cafezinho, por favor...

-E para você, meu bem?
-Nada não.

-Mais alguma coisa, querida?
-Não, não. Só isso mesmo. Obrigada.
Disse a boca em formato robótico, não querendo dizer nada, absolutamente disforme e cuspindo sons surrealistas no entardecer. Mas o pensamento, no abismo da cabeça, gritava em ardência contido em grades grossas trancadas por chaves gigantes de aço jogadas no Pacífico após o fechamento da prisão. Sim, sim, gritava o pensamento. Pelo amor de Deus! Uma dose caprichada daquela bebida cara, aquela que todo mundo gosta e todo mundo vicia e todo mundo precisa ao menos uma vez por dia, aquela mesmo, isso, que contém o ingrediente misterioso: a solução concreta para meus problemas. Ah, mas vocês não vendem não é? Sim, entendo. Acabou? Verdade? Poxa, não recebem há anos? É, eles devem realmente ter retirado do mercado. Causava polêmica em discussões de religiosos, estudiosos e companheiros tal, tal... uma pena. Preciso muito de uma dessas agora, desceria fácil. Estou morrendo enquanto meus problemas vivem. Bem, eu morro para dar vida a eles, ou melhor, eles ficam cada vez mais vigorosos ao roubarem meus sentidos. Enquanto isso vou me desfazendo, me perdendo e me esquecendo nos caminhos escuros desorientados. Eu trouxe o desespero, vê? E trouxe também a agonia e a inquietação, elas devem estar aqui em algum lugar dessa bolsa enorme, uma bolsa enorme de mulher, inútil. Peso-a com as anotações do dia e esses sentimentozinhos desprezíveis. Fico cá sem minha dose. Ó céus, e eu criando planetas coloridos e perfumados, ó ilusão. Esse café bastará. Alguns mililitros de amargura não irão influenciar na amargura desse fim de vida. Na verdade, nem os sinto mais.

Saíram dali de mãos dadas com o ar, as quatro mãos flutuando. Pensamento e boca vivem em reinos muito muito distantes.

-Você não gosta de café?
-Até gosto, mas fico muito agitado quando bebo.
-Pois eu não. Sou um poço manso. Olhe, estou até bocejando.

E da tarde se fez noite. E das pessoas se fez o vazio. As janelas fecharam, luzes apagaram, os corpos se deitaram e sonharam, alguns. O pensamento adormeceu. Outro dia viria frio, outros problemas viriam fortes, cafés cafés cafés e amargura, talvez a morte para quem quisesse e até não quisesse. E as religiões se unem, a guerra santa tem fim, o preconceito morre, descobrem a cura do câncer, não amigo, de jeito nenhum. Por favor, desconsidere o pessimismo, mas é impossível dar outro final, afinal, mais alguma coisa? Não, não. Só um cafezinho mesmo, obrigada.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

oirbós

Virá o sol branco e a noite úmida sobre os ombros, mas a pele está seca e os sonhos desidratados. Sinto sede de amor. Sede de amar. Meu corpo caminha delimitado por uma vontade fanática de querer; uma necessidade de transa com outro corpo. Sentir, por dentro, o quente da paixão e beber. Beber até fechar os olhos sem abrir, pois não há forças para abrir uma estúpida lata de conserva - esta lata de conserva se chama juízo- e beijar. Beijar outra alma até que a cabeça infiltre cautelosamente numa loucura de querer entre tantos quereres do querer-te. Girar o mundo particular quando gira a cuca, tudo ao redor. Arder a cama, os pés, pernas, pescoço, navegar nos lençóis e tomar o mar numa esquina com sede, entre olhos. Garçom! Eu preciso de um vício. Eu preciso de um vício fatal para morrer no meu vício e nascer novamente, que é assim que se vive: morrendo e nascendo, morrendo e nascendo, por vezes se matando só para nascer de novo. Sou besta, é bem viver no primeiro gole, no segundo, risada, no décimo, sede. O vício se segue. É amor que preciso, e dê-me a dose diária de insanidade. Há, em cada co(r)po, uma solidão amarga, mas o prazer é todo meu, sente-se, puxa a cadeira, só estou começando.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Amanhã às 19, às 19 horas

Já reparo seu relógio atrasado. Posso contar o que aconteceu amanhã, mais ou menos.

Perfumou-se, pintou-se, fez-se bonita à mercê de seu mundo. Escolheu o velho vestido das ocasiões especiais especialíssimas, virgem de qualquer local que não fosse o canto direito da porta direita do armário, ainda guardado num embrulho de miúdas rosas para não empoeirar-se junto aos panos casuais. A roupa ideal para o momento ideal: leve, jovial, alegre. O momento, a roupa e o corpo, no momento em que a roupa vestia o corpo e também no momento em que o corpo era da roupa. Ali, quando, a combinação exata modelava uma verdade, numa harmonia considerável, pura arte romântica. Colheu alguma poesia entre as paredes para ter assunto e muito assunto. Estava frio e suas mãos perderam o ardor. Estaria frio e suas mãos perderiam o ardor. Riu tanto, o beijou. Riria, o beijaria. Rirá, o beijará. Saiu a cabeça recheada de ideias aquarianas, e enfeites revolucionários. Era aquário, a liberdade e anacronismo num espetáculo furioso da compreensão e bondade. Estava bonita à mercê de seu mundo, que não era bastante diferente do mundo dele, que não seriam dois mundos, apenas um. Como a lua era uma. Ela foi de esperança e tudo para lá. Amanhã ás 19, ás 19 horas teve história para contar. E o hoje, após 19 terá mais ainda, mesmo que o relógio atrase uma vida inteira.
...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

É hoje


Paraty torna-se cidade-livro. Com magia nos muros, palavras nas janelas, histórias nos telhados, heróis, vilões e gente como a gente perambulando entre suas páginas-ruelas. É a FLIP 2011 que abre suas portas sem pedir senha. É preciso apenas sonhar para entrar. É preciso apenas compor esta cidade-livro. É preciso ser como uma palavra que vive solta por aí.

Vejo vocês lá!

sábado, 2 de julho de 2011

Acredite.

Certa vez, lembro que Carolina me disse: amor é coisa pequena que dá e passa.
Que dá e passa, pus-me a pensar. Que dá e passa.
Talvez nervosinho de artista antes de abrirem as cortinas, que dá e passa, ou indignação de homem frente à injustiça, que dá e passa, ou vontade de comer um doce, que dá e passa, basta distrair-se.
Que dá e passa, pus-me a pensar.
Mas o meu não passava. Então comecei a contar os dias, com paciência, esperando que partisse. Depois os anos, com ansiedade. Mas não passava, pelo contrário, em cada cômodo, em cada móvel, em cada canto de minha casa havia mais dele; um pouquinho de suas tralhas espalhadas sobre as minhas, suas fotografias invadindo os porta-retratos, seus livros na estante. Eu era o seu alimento, o prato principal, a sobremesa e o suco. E a cada dia eu acordava menor, como se ele me comesse em pedacinhos durante as noites, quando sonhava. Às vezes comentava isso com Carolina, que não acreditava e voltava os olhos na TV. "Oh, como você é sentimental, Leonardo!", costumava sair da boca dela, ou "Seu mundo é na lua e cor de rosa?", ou pior, "Não tome meu tempo com sua imaginação". Mas eu gostava de Carolina mesmo assim, porque sabia bem o que era a verdade e tinha pena por ela não enxergar certas coisas. Pois a cada anoitecer o amor chegava mais esférico da rua às 18horas, gordo, farto, repleto de mim, neste horário trazendo guloseimas para tentar me agradar. No fundo conseguia. Apesar de me dominar com a atitude invasora, comecei a gostar dele. Parecia que não iria embora, e eu realmente não queria que ele fosse.
O que eu mais queria e temia veio quando, meu amor grande, bonito e gordo disse " já é hora de me dividir, Leo! Dê um jeito". Mandou-me achar alguém rapidamente. Claro, já tinha em mente, há anos, Carolina. Mas ela não acreditava em mim. Carolina não confiou em minha história, porque amor é coisa pequena que dá e passa. O meu explodiu de tão grande, pois quem eu queria, fez desfeita. Fiquei só. Talvez meu amor não fosse amor para ela.
E mesmo só, nunca deixei de acreditar, afinal no meu dicionário, amor é quando a gente acredita. Quanto a Carolina, passou em minha vida, assim como tudo que dá e passa.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

quero agora

Não suporto este lugar.
Esta mesmice calada. Este tempo úmido. Este céu. Esta praia. Esta gente. Não suporto mais esta cidade.

Quero comida quentinha, quero cheiro de mãe, quero férias, quero não ter hora, quero televisão, quero Filipe, quero cinema, quero teatro, arte, quero querer ver o mar e não poder, quero aquela praça, aquela boate, aqueles amigos, aquela risada, aquela ponte em cima do rio, quero a barriga de pai, quero abraço da vó, quero bênção de vô, quero as crianças gritando na varando e tata latindo até estourar, quero viajar, quero móbiles na janela, quero o céu de lá, as ruas amarelas, as árvores nas esquinas, quero a padaria, a banca de jornal, quero matar saudades antes de morrer aqui. Quero minha cidade do aço, quero Volta Redonda, quero estar de volta, quero a sensação de estar em Volta, quero amar tudo em volta, Volta, quero o passado de volta.

sábado, 18 de junho de 2011

A cara dos meninos Brasis

Somos crianças pretas cor terra
Nos terrenos abandonados por ele e você
O banho no esgoto no mais emagrece
Minha sede não morre com água de chuva
Minha fome só mata quem eu gosto
Também quero comer dignidade
quente ou fria ou resto
Somos crianças pretas cor terra
Brincando no sinal com malabares
jogo meus sonhos pelos ares
Tão alto que entram em órbita
Um marciano passeia no céu
Verá sonhos pretos terra girando
com satélites, são os meus
Quem dera virassem estrelas
Mas onde eu moro, seu moço,
no céu só tem antenas
e fios enovelados que é
pra gente vermos futebol em domingo
Quando posso, solto pipa
bem até o infinito
quem sabe a rabiola
não enlaça um dos meus sonhos de volta?
Quem sabe um vento forte
não me leva pra perto do marciano?
Somos crianças pretas cor terra
filhos dos variados pais
filhos do variado país
nomes de variados tipos
todos chamamos Brasis

Parênteses



(As pessoas me surpreendem. Hoje falo daqueles que pisam na grama. Não pelo fato rotineiro de pisar na grama, nem que a grama mereça ser pisada, ou que pisar na grama seja um erro imperdoável, e ainda que não pisar na grama seja uma atitude extraordinária. O incômodo surge do desejo inexorável destas pessoas de estar contra-corrente, desconsiderando direção, objetivo e velocidade da mesma. "Não pise na grama". Elas pisam. "Pise na grama".
"- Ah, não piso de jeito nenhum".
Vou fazer campanha, já resolvi. Pinto nos muros de toda cidade: apareçam, apareçam, apareçam.
Talvez assim elas sumam de vez. E a humanidade preservada de cabeça aberta tenha mais espaço para pensar por aí).

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O segredo da sedução

Para você, mulher:

Cuide bem da sua casa e de seus pertences. Seja bem humorada e sociável. Tenha um "corpão violão". Acorde bela por dentro, e se conseguir, por fora. Mas esforce-se, pois é possível. Se nas novelas elas conseguem, por que com você seria diferente? Não olhe para o lado ao acordar, corra desesperadamente para o espelho. Olhe cada detalhe. A primeira pessoa a lhe ver no dia deve ser você mesma, para retirar aquela remela e aquele bafo que você, você, não, você não tem. Seja curiosa e esperta, sem exageros. Leia pouco, mas fale bem. Leia jornais, leia revistas, não as de beleza, claro. São perda de tempo, assim como os salões de beleza e as academias, você não precisa deles para estar belíssima o tempo todo, com unhas feitas e cabelo escovado, afinal, unhas e cabelos arrumam-se naturalmente, não é? Leia receitas, faça o melhor que puder na cozinha. Pratos sofisticados e deliciosos, sem se esquecer de deixar tudo limpo depois. Seja inteligente, mas não muito inteligente. E se esse for seu caso, não desanime, finja às vezes que ele (o objeto de sua sedução) disse algo inusitado e brilhante, faça uma expressão de "oh, incrível". Congele nela, até ele perceber. Neste momento você será considerada muito sexy, talvez a mais sexy do mundo. Filhos? Não tenha. Se tiver, mantenha-os com dentes escovados, cabelos lavados (sem piolho), nada de rebeldia, tarefas escolares prontas (aquelas mesmas tarefas que a fizeram sentar ao lado do filho após um dia cansativo e estressante de trabalho, no qual a nossa sobrevivente, ou seja, você, já levou bronca do chefe, fez o jantar, foi ao mercado, ao banco, ouviu uma grande amiga desabafar no telefone sobre o safado cachorro sem vergonha do namorado, passou roupa, tudo isso linda, e tomou um banho de 2 minutos. É, aquelas mesmas tarefas como a matemática que você não lembra, a fizeram sentar-se linda no fim do dia ao lado do filho e ajudá-lo com muito o amor e paciência). Atenção, o mais importante: ame, idolatre, vanglorie futebol e saiba o nome de todos os jogadores de todos os times do mundo. Isso é importantíssimo. Mas, por favor, nada de perfeição, pois a sedução se tornará sem sal. Estatísticas de programas de namoro e sites cupidos revelam que a maioria dos homens não quer uma mulher perfeita. (Sério? Que pena).

Lembre-se, grande parte dos homens não gosta de ter trabalho. Portanto, uma mulher pronta é muito mais atraente.

Se você é homem pare de ler por aqui. Se você é mulher, prossiga.

(Se você é homem e prosseguiu, procure um analista para o controle de curiosidade. Estou avisando para interromper a leitura).

(Certo, eu avisei, mas você insistiu).

Cá entre nós, garota, não siga o que eu disse acima. Sua sedução não durará muito tempo. Eles cansam e vão embora. O ideal é que cuide de si mesma, o resto é conseqüência. Seja realizada e independente. Respeite-se, compreenda-se, ponha-se no seu lugar. O verdadeiro segredo da sedução é amar-se sem vergonha. Sempre haverá um par menos preguiçoso e machista nesse mundo, disposto a aprender com você, bem embrulhado numa produção única, exata para suas necessidades. E por fim, seduza a si mesma. Mantenha-se viva. Viver a dor e a delícia de ser o que é a cada dia. Viver ser mulher. Viva ser mulher, viva!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Se correr o bicho pega, se ficar...

Definitivamente não. Não nascemos prontos para o amor. Esta confusão cuja propriedade mor é confundir-nos. Mas amor é bicho danado e gosta de desafios. Busca sempre votos e homenagens. Quer ver? Pois tente largar as portas e janelas sem trancas um dia e verás. Antes chuva molhar tua cama, antes homem roubar teu tesouro. Mas é este, maldito amor, que molha teu rosto, e carrega na bagagem parte de teu coração. Diz ainda: devolvo em breve! Ora amigo, siga um conselho sagaz e desconfie desta cara santa, pois que nem a história do doce e da criança, o doce é o teu, a criança és tu. Caso ele devolva um pedaço de coisa, será tristeza e no máximo um bocado de saudade. Portanto, nem é vantagem nascer assim. E que bom que nascer, é apenas o início do ser.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Todo o tempo

Não vejo erro em refutar-se.
Somos mudança de ideia.
Somos ideias mutáveis.
Somos móbiles com nomes e rostos.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ousadia furtiva

Eu vejo nossa coragem. Ela, às vezes, murcha diante do desconhecido. Eu vejo nossa coragem e ela murcha, às vezes, diante de nós mesmos, desconhecidos. Está escrito no fado do guerreiro: há de se lutar até a morte, e não vindo a morte, há de se prolongar a luta. Mas ainda a vejo. Mais. Já a sinto. A coragem indo. Nosso destemor vaza como orvalho e se acaba na terra, entre vermes e bosta. No escuro, entre medos e demências. No mundo, entre homens e mulheres. E as asas, onde as repousamos? É que esconderam a chave da gaveta de sonhos incríveis para pessoas funcionarem, manterem carregadas as baterias. É que roubaram-nos a doce alegria por viver num planeta paralelo, no qual há cores e sons embolados em sorrisos e mãos de gente de bem. De gente sábia. Tão sábia que perdeu sua coragem de vista. Cortaram nossas asas. Ou cortamos.
Não sabemos daquela ousadia há muito tempo. Se ela anda. E se anda, não é por essas bandas.
Oh, Deus, como bravura faz falta no mundo!

quinta-feira, 26 de maio de 2011


Não acredite em minhas palavras, elas não sabem o que dizem. Acredite em meus olhos, eles sim dizem verdades sem ao menos querer dizê-las.

domingo, 22 de maio de 2011

De Minas ao Rio,
saudade comprida
não sabe o caminho.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

terça-feira, 17 de maio de 2011

É como fruta


O que é a paixão senão um sentimento incontrolável? Por ela se ri, chora, faz, vive. Num só momento em desespero, num de repente, num minuto cheio de pressa.
O amor? Eis uns dos mais racionais. Por ele se ri, chora, faz, vive. A qualquer momento numa cautela ímpar, por muito tempo, numa vida inteira cheia de calma.
A diferença entre apaixonar-se e amar é uma simples questão de amadurecimento.

domingo, 8 de maio de 2011

aconchego de dois

quero-te espontâneo em mim espontânea
quero quebrar a regra de tua reza rude
e partir nossa paixão em pequenas partes
para morder cada uma quando sentir fome
mas nunca me saciar
mas nunca dar fim a alguma parte
para que infinito seja enquanto infinito dure
para sempre que dure
quero que aconteçamos
aconteça o que acontecer

viver, te ver, tu
viver,tu , vim ver, ter

quero-te fogo em mim fogo
e quando vento em mim vento
e quando água em mim água
e quando medo em mim medo

quero-nos um prato frio de entrada
um vinho a manchar o lençol
nossas pernas emboladas sem forma
nossos corpos pesados como pedra
sem hora
sem hora
e agora
esta noite
e depois

fica, aconchega
chega perto
acalma a cama que ainda é domingo
e a cidade dorme sonhando nós dois

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tem muita água por todos os lados. Nos pés. Na cintura. No ombro. Nos olhos. Nos sonhos.
Estou sem fôlego. Sinto respirar fundo e nada adiantar. Nenhuma esperança entrar na alma.
Está chovendo uma chuva que cai rasgando e finca-me a pele e dissolve uma boa alegria antiga.
Na verdade, estou afundando em meio a esta tempestade. Você também está.
Sabe o que é, meu amigo?
Se você não remar, sozinho eu não consigo. Estamos juntos nesse barco, afundando. Não há quem nos salve. E, pelo jeito, mesmo que venham todos os socorros desse mundo, dispensaremos qualquer salvamento. Vamos afundar orgulhosos e morrer um para o outro,
em vida.
Para sempre.

Porque quando se quer, perder alguém é muito fácil.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pranto e prato



Faz tempo que me perdi. Já não me encontro embaixo nem desses lençóis que transam enquanto deito.
É o vazio que se alimenta da esperança miúda, a última entre as tralhas no armário.
Faz tempo que um papel pardo está colado no meu teto, e qualquer palavra que o cubra, se apaga pelo vento da janela.
Não entendo esses dias que dá em mulher.
Que se chora com retratos. Que se fala com flores.
E põe à mesa toda e pouca agonia. E come o lamento. Vomita lágrimas, mas não mata a fome.
Talvez seja só saudade, talvez não. Talvez passe, talvez não. Talvez só precise me mudar, ou de um novo amor, ou de um novo corte de cabelo. Ou esquecer.
Talvez eu esteja com sono do mundo, cansada demais. Com os olhos pregados.
E faminta, mas não de delícias.
De pranto.

sábado, 9 de abril de 2011

no meu tempo

Marcamos um encontro

eu e os velhos versos

era a saudade desmedida do que fomos um dia

a bela dupla


provei palavras

entendi os temperos

e cada letra tinha um gosto de mofo

meio acerbo como prato dormido de geladeira

notei o quanto pequei com os velhos versos

nenhuma rima

nenhuma meia rima

um rim um ri um r

nada


Posso até costurar ar e ar

ou casar éu com éu

evitando o segundo deslize

mas pensando bem

faça rica ou faça pobre

não nasci pra esses lances


minha poesia tem meu tempo

e sou um tanto contemporânea

domingo, 3 de abril de 2011

Boas novas

Eu vi você entrando por
aquela porta.
Eu vi o amor pedir
carona e se acomodar
no banco de trás.
O resto passou a pé.

quarta-feira, 23 de março de 2011

sem aspecto

É preciso ser:

um pouco de tudo
um tudo de tanto
um tanto de louco
um louco de pouco

aspecto
falta aspecto

neste mundo, entretanto
não é preciso ser

ser é impreciso.

terça-feira, 22 de março de 2011

Eu senti o fim. Pela primeira vez, eu o senti bem leve na palma da mão. Vinha em paz, como um inseto inocente, riscando de patinhas estremecidas um caminho na minha pele. Na mão, no pulso, no braço, no ombro, no peito, sentia. Até ele se infiltrar no peito e furar o coração de vez. E fui sentindo e sentindo no coração, e senti tanto, tão intenso que repetia para mim mesma em sussurro, espontânea, quase como num reflexo de dor : é o fim é o fim é o fim. E era mesmo o fim, sem segredos, sem máscaras. O fim. Ele, nu. Desde o início era o fim que não assumíamos.
Eu era verde, você vermelho. Eu era curva, você reta. Eu era tão confusa e você tão simples. Ao fim chegamos, senti, e até que enfim, reconhecemos que no fim já começamos, também no fim sempre estivemos. Recolha sua alma em luto, pois nos resta lamentar a perda de uma história nunca escrita. Enquanto isso, rezo ao céus. É paciência que eu preciso, que precisamos.
Admiro a receita, o tempo de espera. Mas há fome. Há pressa. Há sonhos.

sexta-feira, 18 de março de 2011

...com saudade do tempo que vivia

o corpo que vive
e deita
que vive e deita no asfalto
e observa estrelas
e pensa
que não existem
que não existem estas estrelas
que estão apagadas
é também um corpo estrela
que está apagado
e não existe
e não pensa
que o corpo é observado
pelas próprias estrelas
que não existem
deitado no asfalto
que vive

quarta-feira, 2 de março de 2011

Do amor

Não falo do amor romântico, aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento. Relações de dependência e submissão, paixões tristes. Algumas pessoas confundem isso com amor. Chamam de amor esse querer escravo, e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada. Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado. Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta. A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado. O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita. O amor é um móbile.
Como fotografá-lo? Como percebê-lo? Como se deixar sê-lo? E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine? Minha resposta?
O amor é o desconhecido. Mesmo depois de uma vida inteira de amores, o amor será sempre o desconhecido, a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão. A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação. O amor quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar pela estrada reta. Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos, e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim. Não, não podemos subestimar o amor, não podemos castrá-lo. O amor não é orgânico. Não é meu coração que sente o amor. É a minha alma que o saboreia. Não é no meu sangue que ele ferve. O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito. Sua força se mistura com a minha e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu como se fossem novas estrelas recém-nascidas. O amor brilha. Como uma aurora colorida e misteriosa, como um crepúsculo inundado de beleza e despedida, o amor grita seu silêncio e nos dá sua música. Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor, se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço. E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o amor a navega. Morrer de amor é a substância de que a vida é feita. Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.


Paulinho Moska

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

De novo.


Lá vamos nós com o mundo na mala e a louca coragem na cuca.
De novo.
A vida passa como aquela criança que balança. Tudo se vai e vem e vai e vem. Parece também uma roda gigante. Dessas tanto coloridas quanto iluminadas capazes de deixar qualquer homem de mente sã com a cabeça rodeada de mistérios. Gira, gira, gira sem parar, nos levando com ela em seu ritmo frouxo. Por vezes, faz pensar que cairemos. Mas sem pena de recortar e colar e modificar e desenvolver e diferenciar, partimos. Porque nos resta a boa e velha mania de recomeçar.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

por inteiro

Tem gente
que a,
que sen,
que vi.

Enquanto a mim,
prefiro a mar,
sen tir,
vi ver.

Assim, por inteiro.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

sabedoria

escrevo para ser livre.
escrevo para aquele que não compreende e nunca compreenderá. Pois, assim, fazendo-se pequeno desafio, questão não há, mínima. de entender-me, entende?
escrevo para dizer que morro de ti, morrerei desde então.
até.
Hoje, amanhã não mais.
Seja feliz com teus conceitos, sonhos e ilusões.
Simples, com cheiro de mato e cachoeira, sem frescura ou pudor, aguada de um medo sobre a inconveniência, eu digo adeus. É que às vezes, quase sempre, para não dizer sempre, sou feliz sendo eu mesma, comigo mesma, a mesma de sempre. E não preciso que limitem meus sorrisos ou lágrimas ou sons, nem que me mudem ou modelem. Não preciso que me perguntem o quanto livre me sinto, obrigada.
amar a mim é o suficiente neste momento.
amar, pura e simplesmente. Onde esteja.
A tua censura te condena, como espero que leia isso!
escrevo para ser livre.
escrevo para dizer corajosa, adeus.
antes só, já dizia minha avó.
e, o quanto sábia ela é!
amém.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Adeus, doce ilusão!

Ela vestia um belo verso quando cruzou minha avenida clandestina. Mal pude acreditar, pois as narinas saltaram dilatadas do repouso das pernas e correram em direção ao bálsamo enigmático mitigado pelo cheiro decomposto que subia dos bueiros. Eram fios mais longos que novelo, mais pretos que descanso de sol, mais vivos que luz flutuante de Vênus sobre a escuridão indecisa escrita por Jano em Janeiro. Eram seus cabelos embolados em vírgulas; eram suas curvas variando as direções na beira da minha estrada; era seu perfume suave como pétala ensaiando arte no vento; era eu me perdendo, eu me escondendo, perdendo, esquecendo, perdendo, diminuindo, caindo, morrendo, perdendo, até que sumi. O início é aqui.
Eu desapareci de mim. E sua nudez desavergonhada, a cada esquina, arrancava sem piedade uma palavra da pele. O eu desconhecido e selvagem, ousado que era, pôs-se a recolher os pedaços abandonados por ela na passagem. Aproximava-se. Aproximaram-se, nos aproximamos.
Sem permissão ou tempo, colávamos as letras como mosaicos contemporâneos demais para gerar o encaixe perfeito. Nunca nos completamos, sei. Entre seus peitos frios e meus dedos ferozes, os versos estavam zonzos ou tortos, os acentos nos lugares improváveis, as reticências separadas das ideias de não se dizer o que sente, o ponto final no começo. No começo de nossa loucura. O eu não sei quem ainda esvaía-se em suor e a bela derretia-se polida com sonhos.
Até então, ficávamos mudos por horas, eu lendo no corpo dela muitos livros. Mas, de repente e não mais, saíram os sons primitivos. Tão perigosos e afiados como lâminas de caça. O fim é logo.

"Eu o vejo tão palha. E palha queima no fogo". Ela era fogo quando ria. "Você precisa se banhar como pimenta, anda sem tempero". Ela era mistura de alho e salsa e sal. "Diga-me o que eu ainda não sei". Ela sabia mais que eu. "Você me dá sono". Dormia em meus braços.
Aqui está ele, o fim.
Eu, o eu mesmo despertou confuso com o silencio na rua. Assisti quando não mais nos bastávamos, o eu perdido estava enterrado e percebi o quão pequeno meu ser revelava-se diante dela, que foi embora sem dizer au revoir!, querido. Mas lembro bem que li em suas costas: você é um vazio infinito.
Ela esteve na cidade por 38 dias, em meu corpo por 9, em meu pensamento por todos os outros dias que pude viver até agora. Jamais voltei o todo de antes. É por isso, não desejo, a qualquer momento, esbarrar novamente com figura mágica assim, apesar de achar que cada homem reconhece este estado transcendental uma única vez, e que magia é uma das poucas coisas que nos faz realmente acreditar que a vida vale a cruz refletida.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Muito amarelo

Querido Sol,

Faça noite, faça chuva, faça cinza, faça sombra.
De meia cor que não seja amarelo sua cor, descolori
o pedacinho de medo que habitava em mim sobre
qualquer
coisa nova. Pintei seu reflexo amarelão em
minha parede só para dormir ao seu lado amarelado. E,
após o descanso mudo da quase morte noturna,
poder despertar sorrindo um sorriso amarelo
que amarelará o mundo inteiro com minha alegria
rara, cara, nua.

Mari, amarelinha, entre linhas.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Não me entenda agora, nem depois ou depois

Há quem fuja de uma loucura qualquer, de uma loucura pouca, de uma loucura pequena.
Vai! Pois eu fico.
Fico a me embriagar com absolutos sentimentos explosivos marcando em tiras o velho copo americano. Como com fome de quem comeria estrelas, das mais brilhantes. Sinto-me livre e já posso ser louca. Meticulosamente louca que silencio para ouvir a beleza frágil enamorar uma delicadeza ímpar.
Viva as diferenças! Viva o diferente! Grito, sem pestanejar. Como ninguém toma o próprio tempo, como ninguém quer estacionar a alma em qualquer canto sossegado, vem esta loucura cobrir completamente só meus olhos sós rasgados na arte de concreto cru.
Há quem não entenda algo como se ler beleza em palavras. Pois eu sim, e também desejo a cada segundo: ler beleza em palavras, por favor.
Vai! Corra mesmo.
Depressa, depressa, depressa. Caso não, minha loucura te pega.
Só não me censura, que isso ainda me mata.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Um pouco de luz nessa vida


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.

[Vinicius de Moraes]

Hoje os sentimentos-luz saem para passear de braços dados pela rua. A noite é bela, é bela, é bela, canta minha alma e repete minha paz: o amor recobrirá nosso ser.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010


Sem licença, brilhei no mundo e descobri.
Nasci mesmo para ser feliz, aqui, agora, há um segundo atrás
e também no segundo adiante.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Desabafo 2:11

Como vai você neste dia azul? Comigo não sei. Parece que enlouqueci. Ou simplesmente envelheci?Mil anos em um dia, dizem os desejos. É que meus ouvidos estão um tanto cansados de gente que não sabe ouvir. É que meus olhos estão um tanto cansados de gente que não sabe ver. E meu sorriso está cansado, acho que enlouqueci. As pessoas estão cansativas, o mundo, meus sonhos, os dias, este texto, quanta repetição! Quanto blá blá blá que nada acrescenta. Ando farta de quem não me faz crescer, de quem não me desafia. São os jornais, as capas de revista, as músicas, os programas de TV e sobretudo, as pessoas. Gritem o mais alto que torta sou eu, antiquada sou eu; não creio. Não envelheci tanto a ponto de morrer.
Ainda vivo.
Ainda viverei.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Não se afobe não


"No palco, na praça, no circo, num banco de jardim
Correndo no escuro, pichado no muro
Você vai saber de mim"

Olhos nos olhos daquele que não pode faltar aqui.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Quando o silêncio daquela voz dominou minha alma, logo pensei: é o fim, companheiro. Deixe as coisas, as cartas, as fotos, deixe inclusive os sorrisos mais distraídos na gaveta dos guardados.
Ela disse adeus adeus adeus... e emudeceu.
Despertei cinza e disforme como uma obra de arte contemporânea complexa e inovadora. Quem me visse ali, não entenderia sequer a expressão nos meus olhos. Pus-me a caminhar sem sentir os pés. Entre estradas ocultas deste mundo louco eu era apenas um coração bandido a roubar alegrias em jardins alheios. Eu tinha pressa de um amor-luz que nunca parecia chegar. Já vivi épocas de sentimentos gigantes, de donzelas em torres, de flores e tranças. Já me entrelacei e me perdi no emaranhado de cabelos louros, ruivos e pretos. Já passeei pela pele de tantas mulheres e até fiz música em alguns destes corpos. Mas foi quando o silêncio de uma única voz se fez sobre mim que pensei: é o fim, companheiro. Perdi um pouco a coragem de explodir intenso na vida. E o que mais me entristece nisso tudo, não é o fato de estar sem ela, mas de ter me acostumado a estar sem ela. Logo agora, ao ocupar a mente com outras e outras mulheres, outras tarefas e outras cidades, o silêncio morre. Meu telefone toca para dizer mais uma vez nós dois. O coração sussurra sereno: aproveita, seu tempo é curto.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

...
"Eu quero um punhado de estrelas maduras.
Eu quero a doçura do verbo viver."

E que nestas estrelas estejam as suas, e que dentro deste verbo esteja você.

domingo, 21 de novembro de 2010

Em teu caminho...

Se insano quiseres revê-la, desdobre tua latência em fotografia. Vá no mês que falam as flores e busque o sorriso azul celeste. É lá que estarás quem procuras.
Se insano quiseres revê-la para desafogar a saudade, entra no primeiro ônibus no primeiro horário. Desce na curva do rio. Caminha ainda por uns quinze minutos e descansa na praça. É lá que estará quem procuras. No terceiro banco de livro aberto, de alma grande, de cabelo borboletas. Mas todo cuidado é pouco. Afinal, tua caça não é estática ou vive de pretéritos imperfeitos. O tempo desenrola no tempo como um novelo se desfazendo em linha lisa. Olhos mudam como muda a luz ou como corre a chuva. O tempo não perdoa um coração que tenha partido. Nem cola um coração que tenha se partido. O tempo agora é teu inimigo e não te suporta amante.
Se esse amor existiu, nunca mais passou por aqui.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010



Ser definível é insuportável. E meus sinônimos, eu engulo todos no café da
manhã. É que dispenso a ideia de ser palavra complexa. Palavra complexa é
simplesmente palavra no dicionário. Não quero caber na minha bolha de plástico
ou no meu mundo de algodão, apesar de amá-los tanto. Não quero bastar-me a meu próprio corpo pequeno de sonhos imensos, muito menos em meus sonhos imensos minúsculos, insuficientes. O descansar de uma vírgula? A euforia da exclamação? A subjetividade de pergunta? Esqueci no fundo da gaveta com a poeira de anos. Às vezes a limpeza da casa é tal como uma nova esperança, às vezes é mero
passatempo. Num ponto final, não. Ainda tenho sede. Multiplicá-lo em três,
fantasiando-me reticências, não. Ainda tenho sede.

cubo mágico, caixa preta, vitrine de loja, neste texto estúpido, que nada disso me contenha, nunca.
jamais equilibrar no limite.

Sem porquês, porque

Nem Freud.
Nem Jung.

Eu quero ser para sempre o que ninguém explica.