
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.
[Vinicius de Moraes]
Ser definível é insuportável. E meus sinônimos, eu engulo todos no café da
manhã. É que dispenso a ideia de ser palavra complexa. Palavra complexa é
simplesmente palavra no dicionário. Não quero caber na minha bolha de plástico
ou no meu mundo de algodão, apesar de amá-los tanto. Não quero bastar-me a meu próprio corpo pequeno de sonhos imensos, muito menos em meus sonhos imensos minúsculos, insuficientes. O descansar de uma vírgula? A euforia da exclamação? A subjetividade de pergunta? Esqueci no fundo da gaveta com a poeira de anos. Às vezes a limpeza da casa é tal como uma nova esperança, às vezes é mero
passatempo. Num ponto final, não. Ainda tenho sede. Multiplicá-lo em três,
fantasiando-me reticências, não. Ainda tenho sede.
cubo mágico, caixa preta, vitrine de loja, neste texto estúpido, que nada disso me contenha, nunca.
jamais equilibrar no limite.Sem porquês, porque
Nem Freud.
Nem Jung.Eu quero ser para sempre o que ninguém explica.
Venho sentindo muito medo a cada dia. Estou parda. De beleza
esgotada. Estou vazia de esperança que já até matei alguns sonhos antigos. No
entanto, continuo com a sensação de ter me perdido numa esquina a qual não
dobrei. É ausência de mim que sinto.
-Deus, resta-me a vida inteira, seja parda
seja colorida.
Apesar do vazio ter amputado as minhas pernas, seguirei rastejando.
Mesmo em pó,
Ainda estou aqui.
E por fora, um esbanjar de céus incríveis:
dias azuis, azuis. Fins
de tardes cor-de-laranja, cor-de-laranja.
Só por dentro que ainda está meio cinza.
Não sei onde a deixei, mas não está comigo agora.
Alguém viu minha gota de cor?
Desci a rua ainda uns 500 metros e sentia a alma faminta. Foi de repente que no meio do jardim da casa quatro o avistei. Como um sol no chão, trazia em si a belíssima propriedade da cor amarelo. E, para me nutrir da alegria enigmática. E, para começar bem esta primavera de mim: emudeci meus passos e cessei o tum tum tum do coração. Vi-me com as mãos posicionadas e vap: roubei o solzinho em pétalas e com voracidade,
o comi.
Empalidecera nos derradeiros tempos. Não era doença. Não era tristeza. Não era fome.Nada. Nada do que você mais imagina. Angústia, medo, dores, saudade.
Nada disso.
Tinha saúde e felicidade e comida todo dia, graças a Deus,todo dia, sorte a dela, todo dia. Todo dia. Todo dia. Todo dia todo dia todo dia igual.
Tinha tudo, e
dentro desse tudo um vazio que só pedia a diferença:-Um amor colorido e a conta,
por favor.
Já sinto teu corpo ausente de nós. Já sinto tua alma ausente de nós.
Compreendi o abismo entre nosso entardecer. É que ás vezes sinto muito medo e
você sorri, apenas. Liberta-te. Compreendi o quanto precisas explodir teus sonhos de mulher.
Voe enquanto tens coragem e juventude. Arrisque mais. Mas suplico, ouça-me. O
mundo não é como uma frágil bolha de sabão. Ele não é transparente, e nem seus
filhos o são. Nem tu és como uma rude bolha de aço. Vá amar intensamente,
compartilhar loucuras, gritar revoluções, sentir furacões arrepiando a pele. Só
não te esqueças de despir o manto iludido da coragem. Vá brigar com o mundo,
Teresa, de mãos dadas com a cautela.
Ninguém acredita quando digo ser dono de uma solidão esplêndida, que
transborda da alma como leite esquecido no fogo. Ando só ao longo da vida. Pleno de mim. E, se fecho os olhos para descansar um segundo e me descuido, perco a
rota. O sentido desaparece. Até os caminhos me abandonam. Mas sabe, ainda posso sentir
aquela força inexplicável nascendo no peito. Aquele brilho nos olhos. É quando percebo que sou capaz de
construir novos caminhos com outros passos. Eu aprendi a retomar o rumo. Aprendi a recomeçar.
...para respirar o ar poluído depois de solver um tanto de sol e massacrar meu tempo dentro do maior abraço do mundo enquanto ouço confortavelmente o leal discurso com as mesmas simples palavras terminar em sermão. Para sentir o cheiro do café amargo às 6 seguido do gosto amargo do café às 7 e comer broa de padaria e depois deitar em sua cama atravessada esticando tanto braços como pernas sobre o cobertor já aquecido pelo seu corpo bruto. Para compreender o motivo de toda extensão por considerar a estima das conquistas, comendo arroz fresco ao escutar histórias e intrigas de casal e reabastecer as esperanças e remoçar a calma criando novas formas que irão enrijecer as pernas que irão retomar o rumo e gritar o quanto tudo valeu a pena, enfim, deitando cedo, fechando os olhos, sendo acariciada por mãos aveludadas em amor e amar e sorrir e amar. Para isso, não só, estou em casa, outra vez. Portanto, concordo quando afirmam haver um porto. E digo mais, há também um porta-jóias que nos guarda.
às vezes, tudo que a gente mais precisa é mudar de si.adeus:
fui morar num passarinho.
Mari passeia entre linhas
Sorri nos pontos
Devora as vírgulas
Cai de um parágrafoa outro
E cansada,
adormece sobre o
travessão.
Há tempos sonhava com esse dia.
O peso da obrigação nas tarefas doía em suas costas como se carregasse consigo o universo inteiro. Familiarizara-se como transportador ou carregador das coisas existentes; o carteiro caminhando com pedras. Levava na bagagem tantos quilos que a obesidade parasitava no corpo daquele homem sugando seu líquido até desidratá-lo, absorvendo os sentidos para torná-lo homem comum.
Ser comum é ser mais um na multidão. É aderir pressa ao cotidiano, maquinando-se como personagem na cidade grande. Não viver, encenar. Se adequar aos métodos práticos, quase esquecer o que é raro. O comum trazia um desanimo incomparável.
Mas chegou o dia. E veio, meio assim, sem avisar.
A água escorreu pela pele, desenhando gotículas e acariciando cada mísero poro negro, ele pôde sentir o céu rente ao peito. A espuma do sabão beijou o corpo delicadamente. Sentiu aveludar a alma. Foi pelo ralo todo o peso, toda dor, todo desespero. Banhava-se de paz. As pedras para aliviar o futuro foram pelo ralo com o fluido incolor na harmonia de um balé. Saiu dali tão claro a ponto de brilhar, e pôde, enfim, sentir leveza. Abriu as asas.
Limpou-se do mundo. Sorriu.
"Seu quarto permanece imóvel, nada se mexe nele, nada sai do lugar, tudo sempre
igual. Saudade dos livros, mil folhas de exercícios e apostilas sobre a mesa do
computador. "Não guarda não filha, deixa aí em cima, fica mais fácil. Saudade do
perfume, da luz acesa, "vai dormir Mariana", do creme corporal, "que cheirinho
gostoso é esse Mariana?" ah...e o barulho do chuveiro de manhã? Olha, isso não é
tristeza, é só saudade. Amo-te."
Palavras passeiam de mãos dadas.
Oferecem rosas vermelhas tão vermelhas ao misturarem-se com o sangue vermelho escorrido pelos dedos de quem tocou os espinho desta mesma rosa. Carregam uma bagagem inconstante, misteriosa, intensa...Levam e trazem boas novas, como ondas a chegar e partir, sempre apresentando conchas às areias pardas e úmidas. São notícias escandalosas. Extra extra! Berram os meninos velhos na calçada, cospem palavras azedas a leite, paralelepípedos arrepiam-se. Mas quase não se vê mais paralelepípedos nesses tempos, nem meninos berrando extra extra em local público, nem particular, nem em lugar nenhum. Não se vê mais meninos berrando. Estão todos quietos assistindo à televisão. E televisão não se lê.
Não sei se isso é diferente ou teoria ou desvario. Não sei se meu coração está batendo forte ou quem sabe fraco demais para idade, ou se estou ao menos cansada da normalidade imposta oposta à felicidade geral da nação. É que leituras modelam aquilo chamado de Identidade. Muito prazer! Retiram excessos, inutilidades, pouco a pouco queimam papéis antigos e às vezes guardam-nos como jóias únicas debaixo de um colchão mole. Também são capazes de inventar poesias dentro de nós, descolorir nossos olhos, ou arrancar a venda, e veja, de repente, nada mais é como antes.
Há uma loucura silenciosa que por vezes não suporta calar-se, recorre, então, a elas, perigosas palavras.
É a contradição formando e deformando, prolongando e tirando a vida. É para perder-se e encontrar-se, é para privar-se do tempo, esquecer as horas, abraçar defeitos, odiar defeitos. É para ser!
Estamos cheios de pressa, não? Estou atrasado para nãoseiquelá, mas nunca estou atrasado para ler e companhia limitada.
Um dia, creio eu positivista, crianças mesmo miúdas, grãos rosados e frágeis, não mais ouvirão cantigas boi da cara preta e nem sairão no banco traseiro dos carros de seus pais desesperados para pegar no sono. Apenas ouvirão sons gotejando em letras dando lógica a sentimento, dando ritmo a poesia, dando expressão às linhas. Dormirão. E essas tantas letras, dispersarão pelo ar para cair como chuva, matando a sede das sementes de rosas vermelhas. E das sementes crianças. E das sementes adultas. E das sementes palavras.
.Vi realidade virar sonho
Fui-me embora pra Pasárgada,que fiquei perdida por aquelas ruas,
que pinguei gota a gota como remédio,
que não caibo mais no vazio daquele mundo velho,
nem ele, insano e torto,
preenche minhas vísceras por completo.
[sou pensamento novo a cada novo segundo]
Bem sei, tentei de tudo.
Conheci Teerã à Madagáscar.
Escorri na rosa dos ventos e
ventei o grito nos cantos.
Quero a loucura da rainha!
Intensidade do não conhecer.
Prefiro ter asas, ver por cima,
o plano baixo me bloqueia os olhos.
Prefiro ver em outra parte, de lá,
acompanhada pelo rei
na cama que escolherei.
Construirei a civilização aventureira
no rio, na bicicleta, nas histórias .
Arrumei minhas malas.
Recheei sonhos mofados com coragem lavada,
observei e estudei os mapas.
Não me espere para o café,
talvez não haja retorno.
Venha logo Manuel.
Estarei acontecendo!
Fui-me embora pra Pasárgada.
alusão a "Vou-me Embora pra Pasárgada", Manuel Bandeira.
Um dia, todo mundo quer ir pra lá.
"Se estás no balanço, balança. Sonho é realidade bem vivida.".
Seria contrariar a verdade se dissesse me lembrar minuciosamente do primeiro encontro que nossa mãe programou para nós, meio assim, cheia de entusiasmo e medo. Eu vagamente enxergo vultos como imagens delicadas de uma criança, pequena e gorda, na minha frente.
Venha ver o que ele comprou para você!Fui logo apressada, curiosa e interessada no embrulho presente sobre a cama. Sim, era belíssimo, encantador. Poderia dormir e acordar com tantas peças, móveis minúsculos e bonecos ao meu lado. Montava e destruía as casas fantasiosas que surgiam em meu mundo infantil. Completa criatividade, eu moraria junto com o brinquedo, se coubesse na caixa. Bem sei, reconheço o quanto me apaixonei por aquele presente. Como ele poderia saber perfeitamente o que gosto? Era apenas um menino novo, novíssimo, não falava, não andava, não corria, não saía, só chorava, só chorava e cagava. Mais tarde, quando os anos vieram roubar um pouco do meu encanto e ilusão, percebi que a escolha não tinha sido feita por ele. Mas, o que é isso? Ele tem uma pinta no braço? Sim, e o médico falou que nem precisaria marcação ou identificação. Este era originalmente original de fábrica. Mãe ria, sorria. Eu a acompanhei em seu gesto, ri e sorri encarando o menino da pinta. Faltou tocar sinos, porque ao examiná-lo, contando cada linha e atravessando seu corpinho com meu dedos de cinco anos, entendi o verdadeiro sentido de amizade. Então, finalmente notei o grande presente que tinha ganhado. Aquele bebê, aquele bebê seria meu presente para a vida toda, um tesouro, sem mapas, histórias, um tesouro não escondido, um tesouro na vitrine, exposto, em órbita, nu, espalhado, solto, livre. Constituído não de ouro e diamantes, mas de você, meu moreno, um tesouro todo meu de Filipe.
[Te amo]
Não adianta, minha nega, todo mundo já percebeu. Inclusive lá em casa estão comentando. Está transparente e decifrável. Está no ritmo dos quadris, no brilho dos seus cabelos, na cor morena demais da sua pele. Não adianta. Está no ar que expira modificado, tão filtrado, um novo perfume. Nessa coisa toda um quê ímpar, completamente seu, privado. Voltou no tempo, voltou? Pois parece que voltou à idade flor da vida. Como se recolhesse os frutos e revolucionasse os sabores. Você não me engana mais. Descobri a fundo seu segredo em uma traição própria: ele revelou-se. Entendo, flor, não há hora ou data marcada para ser feliz, mas peço humildemente que dissolva esse tanto de poesia no chão ao passar. O céu claro demais, o sol quente demais tem sede de ti. E eu cá, estou cansado. Diferente do que vejo, esses móveis são obviamente mais velhos que eu, mas andam com postura ereta melhor que eu. Não ria. Apesar do riso ser a expressão habitante na face dessa ousadia juvenil. Declaro a incógnita exposta. Você não me engana. Já descobri porque está assim tão leve, jovial, solta, o andar quase bailando pela principal. Pare. Causa ciúmes no velho. Agora vá! Vá vestir um pedaço de pano que cubra essa felicidade toda!
Quando crescer quero fazer poesia na borda de vestido rendado.
Escrever rima no muro
ver minhas palavras colorindo o papel
alegrar pequenas cabeças
gritar nas bocas
entrar nos becos.
Como doce em tarde de criança
como sofá em casa de vovó
como futebol em domingo de pai
como feto em útero de mãe.
Quero ver colorir colorido
à guache, à óleo, à crepom
fazer poesia em pele de moça
E crescer como a poesia.
A poesia de mim que hei de crescer completamente louca!
Vivi ou vivereio caminho que finda num pedaço de céu,onde folhas secas caem mesmo no verão,onde o calor e o frio agitam ar em balé,e vento preguiçoso acaricia o mato crescido na beira da
estrada.Vejo olhares desconfiados a bordar o chão em passos.Estes passos seguem uns aos outros,sem pressa de ir. De chegar.Sinto gosto do chocolate quente na caneca floridaaquecendo lábios e coração.Abraço todo espaço no abraçovazio sereno completo.Fotografia ficou branca de sonhoque fechei forte os olhos para só sentirdesejo.Foi a paz boa de ter,foi amor virar solução,foi nossas mãos parecerem ter dado nó.
I know you may not want to see me
On your way down from the clouds
Would you hear me if I told you
That my heart is with you now
She's only happy in the sun
She's only happy in the sun
Did you find what you were after
The pain and the laghter brought
You to your knees
But if the sun sets you free
Sets you free
You'll be free indeed
She's only happy in the sun
She's only happy in the sun
Every time I hear you laughing
I hear you laughing
It makes me cry
Like the story of your life
Of your life
Is hello and goodbye