quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Nova casa

Mudei meu abrigo para www.entrecafesepessoas.blogspot.com

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

-Boa tarde.
-Boa tarde, meu amor. O que vai querer?
-Um cafezinho, por favor...

-E para você, meu bem?
-Nada não.

-Mais alguma coisa, querida?
-Não, não. Só isso mesmo. Obrigada.
Disse a boca em formato robótico, não querendo dizer nada, absolutamente disforme e cuspindo sons surrealistas no entardecer. Mas o pensamento, no abismo da cabeça, gritava em ardência contido em grades grossas trancadas por chaves gigantes de aço jogadas no Pacífico após o fechamento da prisão. Sim, sim, gritava o pensamento. Pelo amor de Deus! Uma dose caprichada daquela bebida cara, aquela que todo mundo gosta e todo mundo vicia e todo mundo precisa ao menos uma vez por dia, aquela mesmo, isso, que contém o ingrediente misterioso: a solução concreta para meus problemas. Ah, mas vocês não vendem não é? Sim, entendo. Acabou? Verdade? Poxa, não recebem há anos? É, eles devem realmente ter retirado do mercado. Causava polêmica em discussões de religiosos, estudiosos e companheiros tal, tal... uma pena. Preciso muito de uma dessas agora, desceria fácil. Estou morrendo enquanto meus problemas vivem. Bem, eu morro para dar vida a eles, ou melhor, eles ficam cada vez mais vigorosos ao roubarem meus sentidos. Enquanto isso vou me desfazendo, me perdendo e me esquecendo nos caminhos escuros desorientados. Eu trouxe o desespero, vê? E trouxe também a agonia e a inquietação, elas devem estar aqui em algum lugar dessa bolsa enorme, uma bolsa enorme de mulher, inútil. Peso-a com as anotações do dia e esses sentimentozinhos desprezíveis. Fico cá sem minha dose. Ó céus, e eu criando planetas coloridos e perfumados, ó ilusão. Esse café bastará. Alguns mililitros de amargura não irão influenciar na amargura desse fim de vida. Na verdade, nem os sinto mais.

Saíram dali de mãos dadas com o ar, as quatro mãos flutuando. Pensamento e boca vivem em reinos muito muito distantes.

-Você não gosta de café?
-Até gosto, mas fico muito agitado quando bebo.
-Pois eu não. Sou um poço manso. Olhe, estou até bocejando.

E da tarde se fez noite. E das pessoas se fez o vazio. As janelas fecharam, luzes apagaram, os corpos se deitaram e sonharam, alguns. O pensamento adormeceu. Outro dia viria frio, outros problemas viriam fortes, cafés cafés cafés e amargura, talvez a morte para quem quisesse e até não quisesse. E as religiões se unem, a guerra santa tem fim, o preconceito morre, descobrem a cura do câncer, não amigo, de jeito nenhum. Por favor, desconsidere o pessimismo, mas é impossível dar outro final, afinal, mais alguma coisa? Não, não. Só um cafezinho mesmo, obrigada.