sexta-feira, 30 de abril de 2010

Olha, isso não é tristeza, é só saudade.

Mari olhou para a tela como quem olha pela janela. A visão curiosa do
conhecimento, os muitos quilos da obrigação. Queria fugir por cinco minutos da
normalidade de seus dias, fugir de si, fugir dali. Foi quando, longe, alguém
escreveu poesia de um jeito diferente, como se a poesia pudesse ser tocada,
abraçada, como se a poesia fosse gente, tivesse pele, cabeça, pernas, alma.
Carimbou com tinta amor umas palavras densas, amontoadas, sem pedir licença ou
mesmo por favor. Ela, ah ela, essa mulher que distante te entende, que
mistura o doce sorriso com lágrima salgada, que mistura os sentimentos como
mistura ingredientes para o bolo no café da tarde. E saem quentes, prontos,
cheirosos, deliciosos. Ela, que faz teu tempero perfeito. Ela, que de repente
enfeitou o momento, fantasiou o minuto, porpurinou o ar, fez voar toda a
felicidade do mundo. Que não diz apenas, mas apenas sente o que diz.
"Seu quarto permanece imóvel, nada se mexe nele, nada sai do lugar, tudo sempre
igual. Saudade dos livros, mil folhas de exercícios e apostilas sobre a mesa do
computador. "Não guarda não filha, deixa aí em cima, fica mais fácil. Saudade do
perfume, da luz acesa, "vai dormir Mariana", do creme corporal, "que cheirinho
gostoso é esse Mariana?" ah...e o barulho do chuveiro de manhã? Olha, isso não é
tristeza, é só saudade. Amo-te."


Olha, isso não é tristeza, é só saudade.

domingo, 25 de abril de 2010

domingo

napraça

no b a l a n ç o dapraça

felicidade menina:

vai vem vai vem vai vem

...

sábado, 24 de abril de 2010

De um ponto a outro .



Palavras passeiam de mãos dadas.

Oferecem rosas vermelhas tão vermelhas ao misturarem-se com o sangue vermelho escorrido pelos dedos de quem tocou os espinho desta mesma rosa. Carregam uma bagagem inconstante, misteriosa, intensa...Levam e trazem boas novas, como ondas a chegar e partir, sempre apresentando conchas às areias pardas e úmidas. São notícias escandalosas. Extra extra! Berram os meninos velhos na calçada, cospem palavras azedas a leite, paralelepípedos arrepiam-se. Mas quase não se vê mais paralelepípedos nesses tempos, nem meninos berrando extra extra em local público, nem particular, nem em lugar nenhum. Não se vê mais meninos berrando. Estão todos quietos assistindo à televisão. E televisão não se lê.

Não sei se isso é diferente ou teoria ou desvario. Não sei se meu coração está batendo forte ou quem sabe fraco demais para idade, ou se estou ao menos cansada da normalidade imposta oposta à felicidade geral da nação. É que leituras modelam aquilo chamado de Identidade. Muito prazer! Retiram excessos, inutilidades, pouco a pouco queimam papéis antigos e às vezes guardam-nos como jóias únicas debaixo de um colchão mole. Também são capazes de inventar poesias dentro de nós, descolorir nossos olhos, ou arrancar a venda, e veja, de repente, nada mais é como antes.

Há uma loucura silenciosa que por vezes não suporta calar-se, recorre, então, a elas, perigosas palavras.

É a contradição formando e deformando, prolongando e tirando a vida. É para perder-se e encontrar-se, é para privar-se do tempo, esquecer as horas, abraçar defeitos, odiar defeitos. É para ser!

Estamos cheios de pressa, não? Estou atrasado para nãoseiquelá, mas nunca estou atrasado para ler e companhia limitada.

Um dia, creio eu positivista, crianças mesmo miúdas, grãos rosados e frágeis, não mais ouvirão cantigas boi da cara preta e nem sairão no banco traseiro dos carros de seus pais desesperados para pegar no sono. Apenas ouvirão sons gotejando em letras dando lógica a sentimento, dando ritmo a poesia, dando expressão às linhas. Dormirão. E essas tantas letras, dispersarão pelo ar para cair como chuva, matando a sede das sementes de rosas vermelhas. E das sementes crianças. E das sementes adultas. E das sementes palavras.

domingo, 18 de abril de 2010

A tarde estremece.
Quebra-se em cores,cubismo óbvio.
Tudo está enquadrado do céu do meu apartamento. Tudo segue a receita maldita do futuro.
Não sei mais onde estão meus pés, não.
Provável estarem fora do chão, pois a frieza do piso foi trocado pelo calor do próprio corpo.
Suo o passado, sou o passado, mas estou no futuro.
Já imaginava não ser desta terra há tempos.
Seria eu do céu do meu apartamento? É imenso. É infinito. É ver com bons ouvidos.
Digo,
eu sigo como eu sempre sigo:

só infinito







e só.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Eu bem sei

Está difícil escrever sobre toda essa falta. Falta mesmo o que dizer. Falta até para entender.
Há o vão entre a janela observando o vento subir cantarolando e embalando-se sobre os cachos da trepadeira à frente. Abriram as flores de outono. São vermelhas sangue saudável. É o quadro que vejo. Mas ainda sobra ausência. Entre a pequena beleza que está nos fios costurados, nos laços feitos em nós, nos espaços dos retratos, no pó de nós, há falta. Falta saber de quê.