quinta-feira, 28 de julho de 2011

oirbós

Virá o sol branco e a noite úmida sobre os ombros, mas a pele está seca e os sonhos desidratados. Sinto sede de amor. Sede de amar. Meu corpo caminha delimitado por uma vontade fanática de querer; uma necessidade de transa com outro corpo. Sentir, por dentro, o quente da paixão e beber. Beber até fechar os olhos sem abrir, pois não há forças para abrir uma estúpida lata de conserva - esta lata de conserva se chama juízo- e beijar. Beijar outra alma até que a cabeça infiltre cautelosamente numa loucura de querer entre tantos quereres do querer-te. Girar o mundo particular quando gira a cuca, tudo ao redor. Arder a cama, os pés, pernas, pescoço, navegar nos lençóis e tomar o mar numa esquina com sede, entre olhos. Garçom! Eu preciso de um vício. Eu preciso de um vício fatal para morrer no meu vício e nascer novamente, que é assim que se vive: morrendo e nascendo, morrendo e nascendo, por vezes se matando só para nascer de novo. Sou besta, é bem viver no primeiro gole, no segundo, risada, no décimo, sede. O vício se segue. É amor que preciso, e dê-me a dose diária de insanidade. Há, em cada co(r)po, uma solidão amarga, mas o prazer é todo meu, sente-se, puxa a cadeira, só estou começando.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Amanhã às 19, às 19 horas

Já reparo seu relógio atrasado. Posso contar o que aconteceu amanhã, mais ou menos.

Perfumou-se, pintou-se, fez-se bonita à mercê de seu mundo. Escolheu o velho vestido das ocasiões especiais especialíssimas, virgem de qualquer local que não fosse o canto direito da porta direita do armário, ainda guardado num embrulho de miúdas rosas para não empoeirar-se junto aos panos casuais. A roupa ideal para o momento ideal: leve, jovial, alegre. O momento, a roupa e o corpo, no momento em que a roupa vestia o corpo e também no momento em que o corpo era da roupa. Ali, quando, a combinação exata modelava uma verdade, numa harmonia considerável, pura arte romântica. Colheu alguma poesia entre as paredes para ter assunto e muito assunto. Estava frio e suas mãos perderam o ardor. Estaria frio e suas mãos perderiam o ardor. Riu tanto, o beijou. Riria, o beijaria. Rirá, o beijará. Saiu a cabeça recheada de ideias aquarianas, e enfeites revolucionários. Era aquário, a liberdade e anacronismo num espetáculo furioso da compreensão e bondade. Estava bonita à mercê de seu mundo, que não era bastante diferente do mundo dele, que não seriam dois mundos, apenas um. Como a lua era uma. Ela foi de esperança e tudo para lá. Amanhã ás 19, ás 19 horas teve história para contar. E o hoje, após 19 terá mais ainda, mesmo que o relógio atrase uma vida inteira.
...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

É hoje


Paraty torna-se cidade-livro. Com magia nos muros, palavras nas janelas, histórias nos telhados, heróis, vilões e gente como a gente perambulando entre suas páginas-ruelas. É a FLIP 2011 que abre suas portas sem pedir senha. É preciso apenas sonhar para entrar. É preciso apenas compor esta cidade-livro. É preciso ser como uma palavra que vive solta por aí.

Vejo vocês lá!

sábado, 2 de julho de 2011

Acredite.

Certa vez, lembro que Carolina me disse: amor é coisa pequena que dá e passa.
Que dá e passa, pus-me a pensar. Que dá e passa.
Talvez nervosinho de artista antes de abrirem as cortinas, que dá e passa, ou indignação de homem frente à injustiça, que dá e passa, ou vontade de comer um doce, que dá e passa, basta distrair-se.
Que dá e passa, pus-me a pensar.
Mas o meu não passava. Então comecei a contar os dias, com paciência, esperando que partisse. Depois os anos, com ansiedade. Mas não passava, pelo contrário, em cada cômodo, em cada móvel, em cada canto de minha casa havia mais dele; um pouquinho de suas tralhas espalhadas sobre as minhas, suas fotografias invadindo os porta-retratos, seus livros na estante. Eu era o seu alimento, o prato principal, a sobremesa e o suco. E a cada dia eu acordava menor, como se ele me comesse em pedacinhos durante as noites, quando sonhava. Às vezes comentava isso com Carolina, que não acreditava e voltava os olhos na TV. "Oh, como você é sentimental, Leonardo!", costumava sair da boca dela, ou "Seu mundo é na lua e cor de rosa?", ou pior, "Não tome meu tempo com sua imaginação". Mas eu gostava de Carolina mesmo assim, porque sabia bem o que era a verdade e tinha pena por ela não enxergar certas coisas. Pois a cada anoitecer o amor chegava mais esférico da rua às 18horas, gordo, farto, repleto de mim, neste horário trazendo guloseimas para tentar me agradar. No fundo conseguia. Apesar de me dominar com a atitude invasora, comecei a gostar dele. Parecia que não iria embora, e eu realmente não queria que ele fosse.
O que eu mais queria e temia veio quando, meu amor grande, bonito e gordo disse " já é hora de me dividir, Leo! Dê um jeito". Mandou-me achar alguém rapidamente. Claro, já tinha em mente, há anos, Carolina. Mas ela não acreditava em mim. Carolina não confiou em minha história, porque amor é coisa pequena que dá e passa. O meu explodiu de tão grande, pois quem eu queria, fez desfeita. Fiquei só. Talvez meu amor não fosse amor para ela.
E mesmo só, nunca deixei de acreditar, afinal no meu dicionário, amor é quando a gente acredita. Quanto a Carolina, passou em minha vida, assim como tudo que dá e passa.