segunda-feira, 30 de novembro de 2009

De tardinha

quando a paz de tardinha vem anunciar o despertar da noite, o último raio de sol insiste em invadir o quarto. Logo ele que é tão escuro ao meio-dia, de tardinha, tem os quatro cantos iluminados. No raio, a própria paz e uma saudade, curiosas , vêm rasgando o ar. E pintam, a saudade e a paz, paredes de lilás e grená.E beijam as fotografias nos porta-retratos, contornando os sorrisos que moram lá.E rodam flutuantes em piruetas formando laços finos nos enfeites da estante. Surge assim, um circo em festa com malabaristas a balançar no lustre e palhaços a equilibrar pilhas de livros. O céu revela a si três cores: laranja, rosa, branco. Enquanto a lua, põe-se a boiar transparente, bem lá longe, no infinito. Lá mesmo, aonde ninguém vai. Tudo é cenário. O raio ainda no quarto.Quiçá, fique assim para sempre: recheado de paz, saudade e cores no fim de tarde.

sábado, 28 de novembro de 2009

Ah, esses contadores

A gente passa os dias contando os dias para chegar um dia.
Quando chega, a gente nem aproveita, fica sem aplausos ali parado no meio do palco, pronto para recontar. Se olha para cima, vê o tempo passando, passando, passando. Contudo, ninguém vê o tempo fluindo, acontecendo; enfim, ninguém se vê escrevendo o próprio tempo. É ele o grande autor de nossas vidas. Uma troca de valores sem lei e coragem.
A gente passa tantos dias na esperança de algo que virá um dia, sem ousar criar o algo, com paciência para o algo se auto-criar, brotar do nada. Apenas umas lembranças do passado inquietam, e uma incerteza do futuro magoa; entristece; deixa pálido o que será. Perguntando uns aos outros: o que será? quando virá? Esquecendo-nos do que é.

Só, que num dia, um não mais acorda, e a espera tem fim. Quem fica, inicia um blá blá blá constante de "coitado tão jovem, coitado tanto para viver." Não é questão de merecer a morte, mas sim, de gozar a vida enquanto a morte não vem. Porque o fato, é que ela virá.

Então, quem fica, passa um segundo refletindo, repensando, reformulando os valores. Dorme, acorda e começa a contar os dias tudo outra vez.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Buquê de estrelas

Colhi algumas estrelas do céu
umas brancas, azuis e vermelhas.
Só para colorir o buquê
que te darei no dia de seu aniversário.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Drama

As horas estavam longas.
Cada uma hora continha muitas horas.
Cheguei louca: trocando ideias. trocando pernas. trocando palavras.
Perdi o tempo, o conceito, o desejo, o limite, o momento.
Matei-me aos poucos, torturando-me durante segundos.
Declarei o fim no grito.
É o fim do eu repugnante;detestável.
O enterro que já deveria ter acontecido, finalmente está marcado.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A despedida

Os olhares eram compreensíveis. Melhor seria se não estivessem ali, na partida. No momento certo do encontro para partida. Ela sentia dor, mas prometera para si mesma que não choraria; nenhuma lágrima gastaria, nenhuma. Tentou ver graça pela última vez após descobrir que no fundo, bem lá no fundo, viam de forma equivalente, já que graça é beleza, beleza é graça, irmãs de dicionário. Apostou como ele não sabia, e nunca, talvez, lembrasse dessas palavras. Ou sempre, talvez, pois a surpresa da vida é tanta. As pessoas são imprevisíveis; e é por isso que há graça.
Como duas pedras, adeus. Já notavam-se estranhos e, enfim, compreenderam que o tempo dá o tempo ideal para cada detalhe. Se passa, é bom deixar gosto de não vivido; sem ousar viver. Mas seriam capazes de permitir não sentir um ao outro? Já faz tantos anos.
O pior foi dito: o sonho morreu no segundo dia. Mataram-no juntos. Ele, por ser livre e sozinho. Ela, por permitir um nó da fantasia que deu o bote mais violento.
Estranharam-se mais e mais. O que há de errado em gostar? Só se não houvesse o gostar, ali.
"Adeus, obrigado por tudo. Adeus, gosto muito de você. Adeus, vim em busca de meu passado, do que é importante para mim. Adeus, foi muito bom te ver de novo. Adeus, não se esqueça de mim. Adeus, não espere por mim."
Pronto, estava lançada a sorte. A última frase foi o corte no coração da moça. Porque esperaria? Nunca esperou. Foi o acaso, o puro acaso dos encontros e desencontros. Mentira. Foi a busca pelo passado. Quem busca, alcança. E ele alcançou.
Se dizia: sou sozinho. Ela calava-se em pensamento: não é não. Contudo, respeitou sua tristeza; da vida injusta com ele. Só não entendeu a fome de liberdade que faz tão mal ao coração no seu mundo.
Não foi como imaginava, uma fábrica de sorrisos, afinal, já faz muitos anos. A vida, injusta com ele, causou estranhamento.E, a partir de então, a moça estava decidida que o livro ficaria fechado durante um bom período, para que lembranças fossem evitadas, trancadas. Lembrar demais não é sua fuga preferida.
Até hoje ninguém sabe bem se o que aconteceu foi verdade ou sonho. Não se sabe se existiu um ele e ela neste universo. A única certeza é que a vida continua, portanto, deve-se seguir em frente, percorrendo os caminhos mesmo que extremamente opostos.
O que podemos supor é que ele preferiu a companhia eterna de suas lembranças, enquanto ela, despediu-se de uma aventura. Uma paixão que poderia dar em filme com final feliz.
Sem se conhecerem inteiramente, a escolha foi o adeus.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Raul durante

No céu, há duas estrelas que raramente brilham na mesma noite.
Quando brilham, se beijam.

domingo, 15 de novembro de 2009

Raul antes

Você disse que viria. E veio mesmo; só para alegrar meu coração.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A dona da casa


A protagonista dessa história é minha avó, e se chama Dolores.
Morena, os cabelos com ondas minúsculas, por volta de seus 86 anos e a pele moldada pelo tempo, ela observava tudo nos mínimos detalhes. Os olhos brilhavam como espelhos do sol. Lá estava ela, filmando cada movimento dos filhos, dos netos, dos bisnetos, dos amigos, daqueles que passavam, daqueles que se sentavam em seu sofá, dos que ficavam, dos que partiam. Naquele dia, Minas Gerais, os trazia visita; para ela, e seu companheiro. Eram dois irmãos mais novos de Zezé, que sempre vinham passar uns dias, quando livres. E, mesmo assim, Zezé emocionava-se como num primeiro encontro após muito e muito tempo. “É chorão mesmo esse seu avô, Mariana. Não tem jeito. Um homem deste tamanho babando feito nenê!” Ela não se cansa de arrancar-nos boas gargalhadas.
Naquele dia, parou para reparar tudo ao seu redor; os olhinhos cheios de luz. Contamos cada filho, oito, cada neto, dezessete, e cada bisneto, sete; só para treinar sua memória cansada que a doença cisma em querer.
Eu ousei perguntar se estava feliz. Com um doce sorriso, e mais verdadeiro que já a vi revelar, respondeu-me: e como não? É a maior família que já vi. Culpa de Zezé que não parou um minuto. Pois deu agora para fazer piadas sobre a própria vida. Que vida vó! Quanto já me ensinou simplesmente por dar a bênção. Simplesmente por ser sábia, como é.
Alguns dias a visão não está boa: você está magra, você está gorda, sendo que você não está nada de nada, na verdade. Alguns dias a visão está tão boa que te vê passar do outro lado da rua pela janela da frente. E ri, e chora, e pensa em sei lá o quê se calando de cabeça baixa, sentindo saudade dos tempos de moça. Orgulhou-me ao dizer “eu era assim como você”. “Essa aqui, é que nem eu quando nova”. E quer ser também quando os anos chegarem, com exata sabedoria.
Um presente divino ter em seu abraço o carinho infinito. É a mais bela da casa; clareando os cômodos quando alegre; escurecendo-os quando triste. Por ser assim, dona da casa, visto-a com todo meu amor, e fim.

Receita de poesia


A poesia é a soma de dois todos:
toda mente;
todo coração.

sábado, 7 de novembro de 2009

Com vocês!

Foi assim: fácil, simples, muito simples!
-Alô?
-Fala mulher!
-Está livre hoje a noite?
-Estou.
-Então, dez horas na casa da Amanda.
-Combinadíssimo.

Foi assim: como mágica.
Encontrá-las é sempre maravilhoso.Era justamente o que faltava para terminar bem a sexta-feira.Porque, afinal, a gente conversa, a gente se entende. É o slogan de um encontro transbordando vida, amizade verdadeira. Um "oi" da felicidade.
Com um tempo, a gente descobre que amigo mesmo é isso aí!Não se vê todo dia, e pode ficar meses sem conversar. Ah, mas quando encontra...é um turbilhão de sentimentos positivos, é uma troca, quase uma chantagem: só te faço rir se me fizer rir, entendeu? É necessidade do outro, fome do outro, entrega, vontade de sentir perto.
Os momentos ruins camuflam-se, escondem-se, e quando são inevitáveis tornam-se mais leves. Ah, como vocês! Há tanto que contar, há tanto que ouvir.
"Eu falo sério. Vocês não acreditam? E as intimidades da baleia nem são de nosso interesse, mas que o mar é um vasão sanitário, eu tenho certeza."
Das conclusões que tiramos juntas, quanto valor tem o pequeno!

Mariana vai para os EUA!uau! Para os EUA! Perco a conta das possibilidades e oportunidades que a esperam no sonho americano. Ela vai, vai voar; brilhar. São 5 meses. Mas como digo, distância e tempo são diretamente proporcionais. O tempo parecerá muito maior, quase infinito. Não nos esquecendo da relatividade, também passará num piscar de olhos. Portanto, abrace tudo com toda força e vá em frente, porque o seu, de fato, está guardado bem guardado.
Por isso, encerrarei tal qual comecei, cheia de alegria e sinceridade com uma frase cansada de ser dita, que traduz neste momento mais que mil sorrisos, mil abraços, mil beijos. Traduz todo meu sentimento, de todo meu coração.
Eu amo vocês.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Calor assassino

-Essi calôzinhodi matá! Essi calôzinhodi morrê!
-Essi calô tá é pra suicídio, neguinha! Cê nunca ouviu Seu Joquinha dizê qui as alma vão pro céu, bati nas nuvins e faz chuvê?
-Alma di ricu ou di probri, pretinho?
- Sei não, benzim. Mar devi sê di ricu, uai. Se fossi di pobri nóis morria tudo é afogado.

O dia do inventor

Eu invento versos,ideias,palavras,pessoas,coisas,sentimentos.
Eu invento o hoje. No dia do inventor. O dia do inventor.
E reinvento a mim.
Se pensamos que de TUDO foi inventado. Preparemo-nos para o novo moldando o novo.
Vem sem lógica não rima e acompanha.
A dança da desconhecida.
Parece brincadeira, pois é sim...
Acontece como riso. Surge e ao vento se vai.
Uma gargalhada infantil gostosa reinventando a alegria.
Quem é capaz de entender um coração alado?
Uma andorinha só não faz, verão.
Há muito que se criar.
Lady.Baby.Moon.
Há muito mais aqui que palavras, soltas.
toc. A imaginação bate na porta. Estrelas abrem a mente.
Olhe em volta. Mas preste bem atenção. As coisas são mais do que parecem.
O céu só é céu quando as luzes da cidade se apagam.
Ah, se eu fosse um inventor serelepe, minha primeira criação seria a máquina de apagar cidades.
Então, crianças e velhos poderiam reinventar o céu em seus sonhos,
E os adultos ficariam tão fascinados nesta arte da invenção que esqueceriam sua pressa.
O despertador nunca mais ia tocar.

1( o dia do inventor, 4 de Novembro, não foi inventado por mim. Ele foi realmente um feito genial.)

2(O texto deveria ter sido postado ontem, mas a Internet estava de mal com a vida.O que não é problema meu, claro.)