segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

sabedoria

escrevo para ser livre.
escrevo para aquele que não compreende e nunca compreenderá. Pois, assim, fazendo-se pequeno desafio, questão não há, mínima. de entender-me, entende?
escrevo para dizer que morro de ti, morrerei desde então.
até.
Hoje, amanhã não mais.
Seja feliz com teus conceitos, sonhos e ilusões.
Simples, com cheiro de mato e cachoeira, sem frescura ou pudor, aguada de um medo sobre a inconveniência, eu digo adeus. É que às vezes, quase sempre, para não dizer sempre, sou feliz sendo eu mesma, comigo mesma, a mesma de sempre. E não preciso que limitem meus sorrisos ou lágrimas ou sons, nem que me mudem ou modelem. Não preciso que me perguntem o quanto livre me sinto, obrigada.
amar a mim é o suficiente neste momento.
amar, pura e simplesmente. Onde esteja.
A tua censura te condena, como espero que leia isso!
escrevo para ser livre.
escrevo para dizer corajosa, adeus.
antes só, já dizia minha avó.
e, o quanto sábia ela é!
amém.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Adeus, doce ilusão!

Ela vestia um belo verso quando cruzou minha avenida clandestina. Mal pude acreditar, pois as narinas saltaram dilatadas do repouso das pernas e correram em direção ao bálsamo enigmático mitigado pelo cheiro decomposto que subia dos bueiros. Eram fios mais longos que novelo, mais pretos que descanso de sol, mais vivos que luz flutuante de Vênus sobre a escuridão indecisa escrita por Jano em Janeiro. Eram seus cabelos embolados em vírgulas; eram suas curvas variando as direções na beira da minha estrada; era seu perfume suave como pétala ensaiando arte no vento; era eu me perdendo, eu me escondendo, perdendo, esquecendo, perdendo, diminuindo, caindo, morrendo, perdendo, até que sumi. O início é aqui.
Eu desapareci de mim. E sua nudez desavergonhada, a cada esquina, arrancava sem piedade uma palavra da pele. O eu desconhecido e selvagem, ousado que era, pôs-se a recolher os pedaços abandonados por ela na passagem. Aproximava-se. Aproximaram-se, nos aproximamos.
Sem permissão ou tempo, colávamos as letras como mosaicos contemporâneos demais para gerar o encaixe perfeito. Nunca nos completamos, sei. Entre seus peitos frios e meus dedos ferozes, os versos estavam zonzos ou tortos, os acentos nos lugares improváveis, as reticências separadas das ideias de não se dizer o que sente, o ponto final no começo. No começo de nossa loucura. O eu não sei quem ainda esvaía-se em suor e a bela derretia-se polida com sonhos.
Até então, ficávamos mudos por horas, eu lendo no corpo dela muitos livros. Mas, de repente e não mais, saíram os sons primitivos. Tão perigosos e afiados como lâminas de caça. O fim é logo.

"Eu o vejo tão palha. E palha queima no fogo". Ela era fogo quando ria. "Você precisa se banhar como pimenta, anda sem tempero". Ela era mistura de alho e salsa e sal. "Diga-me o que eu ainda não sei". Ela sabia mais que eu. "Você me dá sono". Dormia em meus braços.
Aqui está ele, o fim.
Eu, o eu mesmo despertou confuso com o silencio na rua. Assisti quando não mais nos bastávamos, o eu perdido estava enterrado e percebi o quão pequeno meu ser revelava-se diante dela, que foi embora sem dizer au revoir!, querido. Mas lembro bem que li em suas costas: você é um vazio infinito.
Ela esteve na cidade por 38 dias, em meu corpo por 9, em meu pensamento por todos os outros dias que pude viver até agora. Jamais voltei o todo de antes. É por isso, não desejo, a qualquer momento, esbarrar novamente com figura mágica assim, apesar de achar que cada homem reconhece este estado transcendental uma única vez, e que magia é uma das poucas coisas que nos faz realmente acreditar que a vida vale a cruz refletida.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Muito amarelo

Querido Sol,

Faça noite, faça chuva, faça cinza, faça sombra.
De meia cor que não seja amarelo sua cor, descolori
o pedacinho de medo que habitava em mim sobre
qualquer
coisa nova. Pintei seu reflexo amarelão em
minha parede só para dormir ao seu lado amarelado. E,
após o descanso mudo da quase morte noturna,
poder despertar sorrindo um sorriso amarelo
que amarelará o mundo inteiro com minha alegria
rara, cara, nua.

Mari, amarelinha, entre linhas.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Não me entenda agora, nem depois ou depois

Há quem fuja de uma loucura qualquer, de uma loucura pouca, de uma loucura pequena.
Vai! Pois eu fico.
Fico a me embriagar com absolutos sentimentos explosivos marcando em tiras o velho copo americano. Como com fome de quem comeria estrelas, das mais brilhantes. Sinto-me livre e já posso ser louca. Meticulosamente louca que silencio para ouvir a beleza frágil enamorar uma delicadeza ímpar.
Viva as diferenças! Viva o diferente! Grito, sem pestanejar. Como ninguém toma o próprio tempo, como ninguém quer estacionar a alma em qualquer canto sossegado, vem esta loucura cobrir completamente só meus olhos sós rasgados na arte de concreto cru.
Há quem não entenda algo como se ler beleza em palavras. Pois eu sim, e também desejo a cada segundo: ler beleza em palavras, por favor.
Vai! Corra mesmo.
Depressa, depressa, depressa. Caso não, minha loucura te pega.
Só não me censura, que isso ainda me mata.