quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Setembro

Desci a rua ainda uns 500 metros e sentia a alma faminta. Foi de repente que no meio do jardim da casa quatro o avistei. Como um sol no chão, trazia em si a belíssima propriedade da cor amarelo. E, para me nutrir da alegria enigmática. E, para começar bem esta primavera de mim: emudeci meus passos e cessei o tum tum tum do coração. Vi-me com as mãos posicionadas e vap: roubei o solzinho em pétalas e com voracidade,

o comi.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Por hoje é só


Empalidecera nos derradeiros tempos. Não era doença. Não era tristeza. Não era fome.Nada. Nada do que você mais imagina. Angústia, medo, dores, saudade.

Nada disso.

Tinha saúde e felicidade e comida todo dia, graças a Deus,todo dia, sorte a dela, todo dia. Todo dia. Todo dia. Todo dia todo dia todo dia igual.
Tinha tudo, e
dentro desse tudo um vazio que só pedia a diferença:

-Um amor colorido e a conta,

por favor.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

You don’t know me, sou como tu és, desilusão

Três noites são definitivamente um vazio e
coisa nenhuma se conhece de alguém caminhando num mundo correndo, em três noites.

Não me determine. Não me
demarque.

Métodos. Complicações. Retrações. E por um momento já não sei mais de quem estás falando.

Quando provava teu cheiro podre e notava exalares uma fumaça viva, depressa apanhei meu guarda-chuva, vesti meu casaco, calcei os sapatos e parti.
Não era ali que deveríamos estar. Estava impossível escutar-te no
núcleo do vozerio. Somente via teus sinais. Bebias teu cigarro e fumavas tua bebida enquanto o entorno agitava. Envenenados de mediocridades, todos. Fumavas, bebias e eu não te ouvia. Nem me via. Música de melhor qualidade e o corpo clamando por chá sereno.

Quis ser outra em três noites. Outras. Uma em cada noite. Mas não fui nenhuma delas e não fui também a velha mesma de contínuo.
Então não fui ninguém. Permiti que tu me indagasses e indagasses, tendo a resposta nos lábios. Quem anda inteiramente pela metade nos últimos dias sou eu. Sou
também a casa da resposta. É que no meio do caminho, do nosso caminho, havia ela com a corrente, o cadeado e a chave na mão nos proibindo de
prosseguir. No meio do caminho havia eu mesma com medo de qualquer coisa nova como paixão.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Há pessoas palavra de menos. Pessoas palavras demais. Pessoas palavras inteiras. Meias palavras e meias. Meia.
Pessoas gibis ou enciclopédias.
Há também aquelas difíceis de se ler.
Que rimam. Que dissertam. Que não rimam.
Mas não há, meu bem, não que eu
conheça,
pessoas de páginas lisas.
Nunca vi quem seja branco de tudo.
Se o momento já faz bom verso, a vida
faz livro inteiro.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Porta de geladeira












"Fui ali conhecer a liberdade.
Se eu não estiver de volta até o anoitecer,
é porque não volto
mais."

Mari.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Quê.

Vivo disso.
Que não sei o que é.
Que não conheço a forma. o pote. o peso. a textura. o gosto.
Vivo disso vivendo dentro de mim.
E vivo dizendo que não sei o que é isso.
É disso que sou. Esse quê meio clichê e repetitivo. Que instantâneamente cospe um quê de novidade.

Em mim:
Quê, sem nome se embola.
Quê, sem definição se veste.
Quê, sem coragem se joga.
Quê, sem prisão se espaça.

E fico bem em frente ao espelho, mesmo esfumaçada a visão.
Sou um quê de coisas que não consigo descrever.
Um quê de tudo. e nada.