sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Eu sou uma canção de Belchior,
Eu sou uma cama bagunçada.
Eu sou um amor mal resolvido.
sou muita vontade para pouca coragem.
Eu sou uma estrada.
Eu sou uma risada perdida.
Eu sou o vinho seco.
sou banho quente com vela vermelha.
Eu sou um incenso.
Eu sou um troca troca de roupas( de faces, de opiniões. de desejos)
Eu sou uma solidão em meio aos homens,
sou muito avesso para pouca pessoa.
sou tanto avesso que quero desvirar.

Eu sou um aquário vazio cheio de ar.
mesmo que as vezes me falte
o ar.

domingo, 9 de outubro de 2016

Relato sem fundamento no domingo.

Parei para ouvir Drummond neste fim de domingo, e não sei bem o porquê, mas lembro do menino no metrô. Tinha os seus 7, 8 anos, os olhos cor de mel, cabelos crespos e ar de curioso. Olhou-me ávido. Logo firmou ao perceber minha jaqueta jeans amarrada na cintura. Sentou-se ao meu lado quando vagou o banco e olhava, tentando ser discreto. Se há algo que bicho criança não consegue é disfarçar. Se há algo que me deixa alerta é ver criança com cara de não sei o quê.  E a jaqueta era o foco. Ele tinha uma jaqueta jeans amarrada pela cintura como a minha. Talvez pensasse: como ela, moça, tão moça, veste como eu? Ou como eu, menino, tão menino, visto como ela? (Entenda-me, leitor, este pensamento não é de criança, era o meu.) No máximo ele: uau, estamos iguais. Ou vá lá saber. Percebo que saltam cheios de brilho e sorri assim: de lado com cara de gente grande. Eu sou o maior. Senti-me tão tão engraçada e ri também toda por dentro. Tinha minha idade dividida por 4, e a mesma jaqueta na cintura. Eu ria tanto internamente que já não sabia  onde começava o menino, onde eu começava. Éramos dois personagens no transporte público do domingo azul dia de feira e íamos não sei onde com jaqueta azul na cintura de onde tiramos isso moda não entendo porque mas eu tenho 26 e ele 7. Mãe, vamos saltar aqui? São Francisco Xavier. Sim. Segui viagem sem saber se havia saltado também.
Sabe, aquela jaqueta, aquele menino,aquele sorriso. Nunca imaginei que moda me fizesse sentir algo assim.

domingo, 2 de outubro de 2016

Quer café comigo?

Tudo que escrevo sobre você eu apago. Permito-me agora tentar. Simples a nossa maneira – apesar de nos julgarmos complexos.

Silêncio. 

Perdoe o silêncio.
O silencio é a minha primeira manifestação de afeto. Calo-me para ouvir-te. Calo-me para observar. Aos calarmos é possível escutar o coração, a alma. No silêncio não há mascaras, estamos nus. Mineira que não sou, no início desconfio - há o pezinho nas Gerais. Já já me derreto todinha. Chove lá fora, está frio, como estão as coisas, tudo na mesma, quanto tempo, certo.

Beijamos.

Não há o não, não há nenhuma razão. Percebi teus olhos brilharem quando soltei o cabelo.

Somos peças de um quebra-cabeça, te reinvento e moldo a todo momento. Uso as cores que mais gosto: você projetado num filme. É como ser desafiada a descobrir algo oculto, uma história de livro, um mistério. Insisto, pois ainda quero ler. Talvez, seja algo como o amor, mas não devo definir o que eu não sei.

Tua voz combina com meu texto. Fico bem vestida na tua pele. Minha boca cai bem na tua. Nossas mãos são como velhas amigas. O teu sexo nasceu para o meu. Nosso café tem o mesmo amargo. Os únicos defeitos são os quilômetros e o cansaço. Posso ser cúmplice e amante e mãe. Todas cabem. Abraça-me forte, no teu peito eu renovo. Eu aceito, aceito rodar o mundo, escalar montanhas, mergulhar em mares escuros, ou uma cerveja no bar da frente. Eu aceito. Aceita? Vamos juntos. Viver não tem idade. Vê com teus olhinhos o quanto é gostoso o nós dois e volte. Diz que sente saudade, diz que quer me ver, conta tuas novidades, problemas, os assuntos chatos para mim interessantes. Podemos dividir o lençol. Faz sorrir porque sorrindo é mais bonito. 

Fui à padaria sorrindo e estarei sorrindo a semana inteira. 

Você sempre será meu sol de carnaval.  

domingo, 22 de maio de 2016

The end

Algumas histórias de amor não foram feitas para dar certo,
mas sim para virar poesia. 

terça-feira, 15 de março de 2016

14:21

 O tempo é dono das leis do mundo. Um dono miúdo, um dono menino. Estamos sujeitos às suas indagações. Sabido e traquinas brinca com os deuses. O tempo tem a bisbilhotice dos olhos do menino. A loucura da mente do menino. O ardor do corpo do menino. O absurdo dos desejos do menino. A simplicidade do sorriso do menino. O mistério do coração do menino. O tempo é inteiramente menino. Na praça, na escola, na cama, no colo, no peito, em si. Jamais o tento captar, pois alem de menino é vento. Por vezes brisa, noutras tufão.  Além de menino é água. Por vezes lagoa, noutras redemoinho. Além de menino é terra. Por vezes fértil, noutras secura. Não se pega, se perde e gasta. O dono singelo das coisas e não coisas, escrito pela ciência como relativo. Como medir quanto tempo dura o tempo? Caberia no ponteiro de relógio? Todos esses segundos desperdiçados em palavras podem ser me cobrados, caríssimos. Como medir o valor do tempo? Compro em balas? Menino, criança, gigante que passa deixando marcas, vá com calma, não corra na beira da estrada, há perigo logo ali e você é jovem. Deixe-me saborear suas brincadeiras e seja meu anjo. Pegue o giz e desenhe meu caminho até o céu. Menino, desta janela do oitavo andar, o admiro. E só quer saber de olhar saias de raparigas, jogar pipoca aos pombos, assustar os velhos, fazer tropeçar os casais. É um dono bagunceiro que revira nossa vida só para organiza-la depois. E depois de depois, desarranja as peças. O tempo faz do homem eterno quebra-cabeça. 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Acorde maior

Odeio despedidas.
Adoro encontros.
No encontro o saboroso é o primeiro abraço que se dá.
Às vezes dá vontade de ficar dentro dele por meses, morar nele ou vesti-lo em dias frios de julho como um casaco quente feito à mão. Por isso adoro.

Aposto o oposto.
Não prometo porque não cumpro, mas me desafio.
Reviro ao contrário o avesso, enlouqueço, e no fim canto o refrão.
A letra completa inspira a memória fraca pra idade.

A saudade me amedronta.
A vontade me encoraja.
A verdade me recusa.
A solidão me acalma.

Estar só e não incompleta!
Estar só pensando.

Há abstrações que levo comigo: o que digo.
Sou abstração.

Amo sol morrendo, milho, cogumelo na comida...qual é mesmo o ritmo?
Marcho pra fazer paz e não curto quem morre em vida.
Curto o longo e prolongo o curto.
Posso dizer: venha cá, amor, só não se enrosque no pescoço.
Não sou romântica, obrigada.
Mas,
mesmo sem fama, meu canto
encanta.
Basta querer ouvir.
E bem de perto.