sexta-feira, 23 de julho de 2010

Doce Teresa,




Já sinto teu corpo ausente de nós. Já sinto tua alma ausente de nós.
Compreendi o abismo entre nosso entardecer. É que ás vezes sinto muito medo e
você sorri, apenas. Liberta-te. Compreendi o quanto precisas explodir teus sonhos de mulher.
Voe enquanto tens coragem e juventude. Arrisque mais. Mas suplico, ouça-me. O
mundo não é como uma frágil bolha de sabão. Ele não é transparente, e nem seus
filhos o são. Nem tu és como uma rude bolha de aço. Vá amar intensamente,
compartilhar loucuras, gritar revoluções, sentir furacões arrepiando a pele. Só
não te esqueças de despir o manto iludido da coragem. Vá brigar com o mundo,
Teresa, de mãos dadas com a cautela.

quinta-feira, 22 de julho de 2010


Ninguém acredita quando digo ser dono de uma solidão esplêndida, que
transborda da alma como leite esquecido no fogo. Ando só ao longo da vida. Pleno de mim. E, se fecho os olhos para descansar um segundo e me descuido, perco a
rota. O sentido desaparece. Até os caminhos me abandonam. Mas sabe, ainda posso sentir
aquela força inexplicável nascendo no peito. Aquele brilho nos olhos. É quando percebo que sou capaz de
construir novos caminhos com outros passos. Eu aprendi a retomar o rumo. Aprendi a recomeçar.

domingo, 18 de julho de 2010

Quando se pensa demais

Pensamentos dispensáveis, curvilíneos e roucos, desses que a vazar pela madrugada distorcem a calma e invadem qualquer quarto apagado supostamente cheio de sono, põem-se a desafiar o sossego da alma. Escutava este raciocínio desacreditado, até experimentar o abismo interminável de silêncio, motivo de guerra extraordinária entre sanidade e loucura, concorrentes famintos por nosso tempo. A maior inquietude nasce da quietude humana e provoca avalanches na mente. Vovó já dizia “cabeça vazia, oficina do diabo”. Sempre escutei os mais velhos, apesar de sua fala não trazer em anexo um manual com instruções ou uma comprovação científica ou um tradutor para a modernidade, mas só pude realmente compreender o dizer ao tornar-me dependente da solidão e permitir que idéias tortas e descoloridas acompanhassem-me por dias. Não que eu queira entrar no plano das crenças, longe disso, este momento é impróprio para discutir o poder real dos deuses, se é um ou mais, vivo ou morto, não sei. Para isso, não ter argumento é meu único argumento. Só digo o que sinto, nem mesmo o que penso. O que penso só penso, sem longas explicações. Apenas o que sinto consigo destrinchar. E sinto, quando calo-me apático, e sinto, quando reprimo a voz, e sinto, quando assassino os sons. E sinto, diabo é pensar demais. Sem filtro. A solidão mente vestir-se de tristeza e significar silêncio. São três pontos diferentes capazes de se cruzar. Só que às vezes, por estar triste e sozinho e calado, a gente acaba escutando de si o indevido. A partir de então, começa a inventar histórias improváveis, conversar com pessoas inexistentes, preferir ficar em casa a ir ao cinema, preferir ficar em casa a ir trabalhar, fingir surdez ao trim trim do telefone, esquecer que há mundo lá fora. A partir de então, a gente fecha as portas e as janelas, abre os olhos somente em lágrimas até afogar-se e inventa que a vida, mesmo tendo, não tem mais solução.

Quando pensamos demais, acabamos por encontrar caminhos que não deveriam existir. E possíveis perigos, antes incapazes e frágeis, podem agora nos impedir.