quarta-feira, 27 de junho de 2012

Melancolia

Sinto uma saudade imensa de mim. Fui embora sem deixar vestígios ou bilhetes ou perfume ou fotografias. Sinto-me diferente: opaca, triste. Talvez o tempo tenha me dado rugas. Mas elas estão por dentro e sabedoria não é melancolia, sem enganos. Meus sonhos estão diluídos. Estão menos.
Eu não era dona desta fraqueza. Não sentia falta de ar, a não ser quando gargalhava até doer os ossos.
Não sei onde pus meu brilho. Teria sido furtado por estrelas? Teria sido eu uma estrela que se apagara? Sinto uma imensa saudade de mim. Do tempo em que eu vivia sem vergonha e me coroava corajosa. Tenho medo de não ter ido apenas embora. Tenho medo de ter me assassinado. Preciso de outras asas, outros navios, outras armas. Estou parda. Estou  farta. Sem farda.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

mulheres.






- Quer?
- Não gosto do seu café.
- O que há de errado com meu café?
- Sem um grama de açúcar.
- Mas se nunca provar do amargo, como reconhecer o doce?
- Eu não estou falando da vida, querido.



- Eu também não estava.
- E pra quê amargar mais a vida  que já está amarga por si?
- Amor, eu não estava falando da vida.

- Ou eu quem estou amargando tudo o que vejo?
- Querida.
- Talvez eu seja um café seu. Isso, só posso ser um café seu.
- Amor,acho...
- Deste, bem preto e puro e ah, amargo.
- Acho melhor você não beber isso.
- Acha?
- Você precisa de algo bem doce.
- Preciso?
- Que tal um chocolate bem quente?Faço para nós.
- Ah, já que você diz.