quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ontem eu vi

Ontem eu vi dois bichos se embolando como linhas criam nós.

Ninguém sóbrio definiria o limite das pernas e braços dançando harmonicamente ao som repetitivo de tum tum tum.
Eu vi tudo aquilo que tinha escrito antes quanto aos olhos tornar-se realidade.

Esfumaçaram a cena.
Distorceram.

Só entristeci pelo fato de minha personagem não ser aquela mulher cabelos longos pretos lisos.

Ela estava louca na roda rodando encostando amassando seus peitos um contra o peito dele. Ela estava louca com a cintura fina sendo agarrada apertada sem pudor, o pescoço acariciado por mãos violentas e a pele em ardência pretendendo despir-se do meio externo e enlouquecer assim, de cara, no meio do salão.

Pareciam famintos
Nus
Sujos

Eu vi os corpos se atraindo e traindo. Bocas se beijando. Eu vi os olhos fugindo um do outro, mas também vi quando ele me olhou de lado de jeito bêbado.

Não sei onde foi parar a suavidade da prosa. Morreu no papel? Porque havia desejo desencantado. Fiquei com Nojo. A teoria determinista comeu meus versos bordados noutro lugar.

Eu vi dois bichos selvagens loucos nus descontrolados infiéis tentando se amar.
E se amaram sem amor.

Um comentário:

  1. Bravo!!!
    Incrível como que, em meio a tantos aprendizes de poetas e escritores, a tantos blogs literários, conseguimos achar alguns que são verdadeiramente dotados de talento.

    Belo texto e que finalização hein!!

    "Não sei onde foi parar a suavidade da prosa. Morreu no papel? Porque havia desejo desencantado. Fiquei com Nojo. A teoria determinista comeu meus versos bordados noutro lugar.

    Eu vi dois bichos selvagens loucos nus descontrolados infiéis tentando se amar.
    E se amaram sem amor. "

    Perfeito!

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