quinta-feira, 10 de junho de 2010

Queriam não se querer, eu sei, é difícil lidar com o descontrole.

E, como se a noite viesse, afoita, jantar o dia, olhavam-se demais por não terem tempo. Olhavam-se demais por amarem demais seus pares, que longe, transportavam felicidade no relacionamento sóbrio, tudo que você espera de um amor para o resto da vida, nos pares alheios, morava. Estranho, olhavam-se demais, gulosos, tortos, ousados, vulgares. Despiam-se no centro em pensamentos. Por respeito aos amores eternos e intensos do outro lado desta realidade murcha, não ultrapassavam os dez metros estipulados um com o outro, naturalmente. A regra da sobrevivência da solidão, de fato, na cidade, cumpria-se com os corpos distantes, que mal sentiam os perfumes absorvidos na pele às seis da manhã cinza de terça. Não podiam sentir a pele, os lábios, o coração. Não podiam sentir. Confundir a razão e desintegrar a pose era comprometer-se a entregar ao risco os pontos frágeis. Fingiam-se de mortos quando cruzavam pernas no corredor, quase sempre, sempre. Mas olhavam-se demais, e que coração, e que cabeça será capaz de enganar os olhos? Queriam não se querer, eu sei, é difícil lidar com o descontrole.

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