sábado, 2 de julho de 2011

Acredite.

Certa vez, lembro que Carolina me disse: amor é coisa pequena que dá e passa.
Que dá e passa, pus-me a pensar. Que dá e passa.
Talvez nervosinho de artista antes de abrirem as cortinas, que dá e passa, ou indignação de homem frente à injustiça, que dá e passa, ou vontade de comer um doce, que dá e passa, basta distrair-se.
Que dá e passa, pus-me a pensar.
Mas o meu não passava. Então comecei a contar os dias, com paciência, esperando que partisse. Depois os anos, com ansiedade. Mas não passava, pelo contrário, em cada cômodo, em cada móvel, em cada canto de minha casa havia mais dele; um pouquinho de suas tralhas espalhadas sobre as minhas, suas fotografias invadindo os porta-retratos, seus livros na estante. Eu era o seu alimento, o prato principal, a sobremesa e o suco. E a cada dia eu acordava menor, como se ele me comesse em pedacinhos durante as noites, quando sonhava. Às vezes comentava isso com Carolina, que não acreditava e voltava os olhos na TV. "Oh, como você é sentimental, Leonardo!", costumava sair da boca dela, ou "Seu mundo é na lua e cor de rosa?", ou pior, "Não tome meu tempo com sua imaginação". Mas eu gostava de Carolina mesmo assim, porque sabia bem o que era a verdade e tinha pena por ela não enxergar certas coisas. Pois a cada anoitecer o amor chegava mais esférico da rua às 18horas, gordo, farto, repleto de mim, neste horário trazendo guloseimas para tentar me agradar. No fundo conseguia. Apesar de me dominar com a atitude invasora, comecei a gostar dele. Parecia que não iria embora, e eu realmente não queria que ele fosse.
O que eu mais queria e temia veio quando, meu amor grande, bonito e gordo disse " já é hora de me dividir, Leo! Dê um jeito". Mandou-me achar alguém rapidamente. Claro, já tinha em mente, há anos, Carolina. Mas ela não acreditava em mim. Carolina não confiou em minha história, porque amor é coisa pequena que dá e passa. O meu explodiu de tão grande, pois quem eu queria, fez desfeita. Fiquei só. Talvez meu amor não fosse amor para ela.
E mesmo só, nunca deixei de acreditar, afinal no meu dicionário, amor é quando a gente acredita. Quanto a Carolina, passou em minha vida, assim como tudo que dá e passa.

2 comentários:

  1. Dá, passa e sempre fica um resto, creio.

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  2. Ai, bem legal seu blog, parabéns.. tô seguindo, sempre que der, estou por aqui. Beijos, Nessa..

    www.blogsensibilidades.blogspot.com

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