sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade


Que chegue tarde do negro,
numa oblíqua madrugada,
lance-se janela adentro,
encha-me de sonhos
e cores para abrir
os olhos e saltar
destes, a alma:
amor.



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