sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tem muita água por todos os lados. Nos pés. Na cintura. No ombro. Nos olhos. Nos sonhos.
Estou sem fôlego. Sinto respirar fundo e nada adiantar. Nenhuma esperança entrar na alma.
Está chovendo uma chuva que cai rasgando e finca-me a pele e dissolve uma boa alegria antiga.
Na verdade, estou afundando em meio a esta tempestade. Você também está.
Sabe o que é, meu amigo?
Se você não remar, sozinho eu não consigo. Estamos juntos nesse barco, afundando. Não há quem nos salve. E, pelo jeito, mesmo que venham todos os socorros desse mundo, dispensaremos qualquer salvamento. Vamos afundar orgulhosos e morrer um para o outro,
em vida.
Para sempre.

Porque quando se quer, perder alguém é muito fácil.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pranto e prato



Faz tempo que me perdi. Já não me encontro embaixo nem desses lençóis que transam enquanto deito.
É o vazio que se alimenta da esperança miúda, a última entre as tralhas no armário.
Faz tempo que um papel pardo está colado no meu teto, e qualquer palavra que o cubra, se apaga pelo vento da janela.
Não entendo esses dias que dá em mulher.
Que se chora com retratos. Que se fala com flores.
E põe à mesa toda e pouca agonia. E come o lamento. Vomita lágrimas, mas não mata a fome.
Talvez seja só saudade, talvez não. Talvez passe, talvez não. Talvez só precise me mudar, ou de um novo amor, ou de um novo corte de cabelo. Ou esquecer.
Talvez eu esteja com sono do mundo, cansada demais. Com os olhos pregados.
E faminta, mas não de delícias.
De pranto.

sábado, 9 de abril de 2011

no meu tempo

Marcamos um encontro

eu e os velhos versos

era a saudade desmedida do que fomos um dia

a bela dupla


provei palavras

entendi os temperos

e cada letra tinha um gosto de mofo

meio acerbo como prato dormido de geladeira

notei o quanto pequei com os velhos versos

nenhuma rima

nenhuma meia rima

um rim um ri um r

nada


Posso até costurar ar e ar

ou casar éu com éu

evitando o segundo deslize

mas pensando bem

faça rica ou faça pobre

não nasci pra esses lances


minha poesia tem meu tempo

e sou um tanto contemporânea

domingo, 3 de abril de 2011

Boas novas

Eu vi você entrando por
aquela porta.
Eu vi o amor pedir
carona e se acomodar
no banco de trás.
O resto passou a pé.