terça-feira, 11 de maio de 2010

O banho

Há tempos sonhava com esse dia.
O peso da obrigação nas tarefas doía em suas costas como se carregasse consigo o universo inteiro. Familiarizara-se como transportador ou carregador das coisas existentes; o carteiro caminhando com pedras. Levava na bagagem tantos quilos que a obesidade parasitava no corpo daquele homem sugando seu líquido até desidratá-lo, absorvendo os sentidos para torná-lo homem comum.
Ser comum é ser mais um na multidão. É aderir pressa ao cotidiano, maquinando-se como personagem na cidade grande. Não viver, encenar. Se adequar aos métodos práticos, quase esquecer o que é raro. O comum trazia um desanimo incomparável.
Mas chegou o dia. E veio, meio assim, sem avisar.
A água escorreu pela pele, desenhando gotículas e acariciando cada mísero poro negro, ele pôde sentir o céu rente ao peito. A espuma do sabão beijou o corpo delicadamente. Sentiu aveludar a alma. Foi pelo ralo todo o peso, toda dor, todo desespero. Banhava-se de paz. As pedras para aliviar o futuro foram pelo ralo com o fluido incolor na harmonia de um balé. Saiu dali tão claro a ponto de brilhar, e pôde, enfim, sentir leveza. Abriu as asas.
Limpou-se do mundo. Sorriu.

Um comentário:

  1. Oi! Tem selo Prêmio Dardos para vc no meu blog!

    http://www.suburbanamente.blogspot.com/

    Abraços

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