quarta-feira, 13 de julho de 2011

Amanhã às 19, às 19 horas

Já reparo seu relógio atrasado. Posso contar o que aconteceu amanhã, mais ou menos.

Perfumou-se, pintou-se, fez-se bonita à mercê de seu mundo. Escolheu o velho vestido das ocasiões especiais especialíssimas, virgem de qualquer local que não fosse o canto direito da porta direita do armário, ainda guardado num embrulho de miúdas rosas para não empoeirar-se junto aos panos casuais. A roupa ideal para o momento ideal: leve, jovial, alegre. O momento, a roupa e o corpo, no momento em que a roupa vestia o corpo e também no momento em que o corpo era da roupa. Ali, quando, a combinação exata modelava uma verdade, numa harmonia considerável, pura arte romântica. Colheu alguma poesia entre as paredes para ter assunto e muito assunto. Estava frio e suas mãos perderam o ardor. Estaria frio e suas mãos perderiam o ardor. Riu tanto, o beijou. Riria, o beijaria. Rirá, o beijará. Saiu a cabeça recheada de ideias aquarianas, e enfeites revolucionários. Era aquário, a liberdade e anacronismo num espetáculo furioso da compreensão e bondade. Estava bonita à mercê de seu mundo, que não era bastante diferente do mundo dele, que não seriam dois mundos, apenas um. Como a lua era uma. Ela foi de esperança e tudo para lá. Amanhã ás 19, ás 19 horas teve história para contar. E o hoje, após 19 terá mais ainda, mesmo que o relógio atrase uma vida inteira.
...

3 comentários:

  1. difunde-se muito que o que importa é viver o momento, o agora, o aqui. não acho errado. mas há de se fazer as exceções aos sonhos, aos projetos e, principalmente, às expectativas de um encontro especial. aí não tem como não ter a cabeça no por vir.

    um texto muito gostoso de se ler...

    abraço.

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  2. Muito bom esse texto.
    Obrigada pela visitinha

    Beijos;*

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  3. ah, como podem ser deliciosas as palavras...
    saio farto daqui - com imagens, sensações incontáveis.

    Gostei muito.

    De tanta estrada assim,
    que voltarei para mais.

    Abraço.
    Ricardo

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