terça-feira, 16 de março de 2010

Filipe

Seria contrariar a verdade se dissesse me lembrar minuciosamente do primeiro encontro que nossa mãe programou para nós, meio assim, cheia de entusiasmo e medo. Eu vagamente enxergo vultos como imagens delicadas de uma criança, pequena e gorda, na minha frente.
Venha ver o que ele comprou para você!Fui logo apressada, curiosa e interessada no embrulho presente sobre a cama. Sim, era belíssimo, encantador. Poderia dormir e acordar com tantas peças, móveis minúsculos e bonecos ao meu lado. Montava e destruía as casas fantasiosas que surgiam em meu mundo infantil. Completa criatividade, eu moraria junto com o brinquedo, se coubesse na caixa. Bem sei, reconheço o quanto me apaixonei por aquele presente. Como ele poderia saber perfeitamente o que gosto? Era apenas um menino novo, novíssimo, não falava, não andava, não corria, não saía, só chorava, só chorava e cagava. Mais tarde, quando os anos vieram roubar um pouco do meu encanto e ilusão, percebi que a escolha não tinha sido feita por ele. Mas, o que é isso? Ele tem uma pinta no braço? Sim, e o médico falou que nem precisaria marcação ou identificação. Este era originalmente original de fábrica. Mãe ria, sorria. Eu a acompanhei em seu gesto, ri e sorri encarando o menino da pinta. Faltou tocar sinos, porque ao examiná-lo, contando cada linha e atravessando seu corpinho com meu dedos de cinco anos, entendi o verdadeiro sentido de amizade. Então, finalmente notei o grande presente que tinha ganhado. Aquele bebê, aquele bebê seria meu presente para a vida toda, um tesouro, sem mapas, histórias, um tesouro não escondido, um tesouro na vitrine, exposto, em órbita, nu, espalhado, solto, livre. Constituído não de ouro e diamantes, mas de você, meu moreno, um tesouro todo meu de Filipe.


[Te amo]

2 comentários:

  1. Ah filha...que lindo!!!
    Que bom que vc se apaixonou por ele e ele por você, foi amor a primeira vista.
    Amo vcs demais
    beijossssss

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  2. Incríveis os seus também!
    Espremer a vida até sair uma gotinha de poesia (como no texto que fala do domingo de 24 de janeiro, ou do telefone sem fio)
    mata a sede!
    parabéns..
    bjs!

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