Não sei explicar. É que, de repente, senti vontade de plantar jardins inteiros em outros corações. Eu já havia sentido isso antes, embora nunca tenha
ligado os fatos. Para ser bastante sincera com você, eu nunca parei para pensar. Não tenho tanta certeza, mas pensando bem, isso aconteceu logo depois que. Pensando bem, agora estou quase certa de como aconteceu. Sim. Foi ela. A culpa dela. Toda. Agora está claro. É dela, que invadiu meus sonhos, espreitou-me, deitou-se na cama espremendo meu corpo como limão morrendo em limonada.
Fiquei apertada no canto, e torta enquanto ela chegava espaçosa. Suave. Egoísta. Viva.
A culpa é toda dela que veio. Sem telegrama. Carta. E-mail. Telefonema. Eu não sei, mas. Eu não sei, mas tinha a chave e entrou silenciosamente e dominou minha casa no meio da noite. Ou no meio do dia. Oh, como eu estava distraída. Em minhas coisas ela
derrubou seu pó e pintou de sua cor branca demais e deixou seu vazio infinito silencioso, nas coisas. Como possuia a chave é uma boa pergunta.
Como?
As vezes imagino que ela possua a chave de todas as casas do mundo. Ou será que isso só acontece comigo? Ando desligada e por isso permitiu-se estabelecer aqui perto, logo ali. Minto, logo aqui no meio de mim. Fui completamente tomada, roubou-me de mim.
Levou a raiva, a pressa, nem mesmo sobrou um pingo de agonia e no instante no qual aprendia a lidar com a ventania resta a brisa nos passos, melodias, movimentos. É tudo verdade. Foi até melhor assim, pois ainda sinto
aquela vontade boa sobre a qual lhe falei. Posso até, se. Se você quiser, posso até plantar um jardim inteiro no seu coração. Você quer? No meu já o fiz, precisa ver só que paraíso, que cores, que brilho. Tem girassol, margarida, azaléia...E é primavera. Não há sujeira no céu. Não há sujeira nas pétalas.
Ela limpou quando veio e me ajuda a regar quando volta. Volta daquela maneira, sem
avisar e sin. Seu nome? Você já a conhece. Não? Claro que conhece, não brinque comigo. Não se recorda? Você anda distraído que nem eu estava quando. Cuidado então porque ela pode preparar uma. Ah, o nome? Sim, o nome. Cada um pode chamá-la do jeito que bem entender, eu prefiro a forma mais comum. Simples e serena até para se dizer o nome.
Paz.
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