segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O dia passou com a cara de domingo, que era, a esperar o objeto preto com botões numerados soluçar. Um chamado. Um apito. Uma sinal qualquer, menos o silêncio, por favor. Alguém querendo saber como está. Ou contando boas novas. Ou deixando recados. Ou fazendo murchar a saudade. Alguém que respire, menos o silêncio, por favor.
O dia passou sentado no sofá da sala mais da metade de suas horas. Nunca o aposento foi tão bem observado. A tintura saía na parede da janela, no terceiro canto nascia teia de aranha, duas das três mulatas de gesso sobre a estante estavam com rachadura, o rodapé tinha uma mancha amarela, o tapete dobrava em uma ponta...Detalhes que não veria, se não fosse a espera, e o silêncio na espera. No silêncio paramos para ouvir melhor os pensamentos. Foi ali que o dia parou. Foi drama.
O coração disse para a cabeça, vá você. A cabeça disse para os dedos, disque você. Os dedos, revoltados, corajosos, não não não. Recolheram-se no peito.
O dia fez-se em noite, sem barulho, sem trilha sonora. Ficou na paz, para muitos. Ficou no inferno, para si. Uma solitude de domingo.

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