Os olhares eram compreensíveis. Melhor seria se não estivessem ali, na partida. No momento certo do encontro para partida. Ela sentia dor, mas prometera para si mesma que não choraria; nenhuma lágrima gastaria, nenhuma. Tentou ver graça pela última vez após descobrir que no fundo, bem lá no fundo, viam de forma equivalente, já que graça é beleza, beleza é graça, irmãs de dicionário. Apostou como ele não sabia, e nunca, talvez, lembrasse dessas palavras. Ou sempre, talvez, pois a surpresa da vida é tanta. As pessoas são imprevisíveis; e é por isso que há graça.
Como duas pedras, adeus. Já notavam-se estranhos e, enfim, compreenderam que o tempo dá o tempo ideal para cada detalhe. Se passa, é bom deixar gosto de não vivido; sem ousar viver. Mas seriam capazes de permitir não sentir um ao outro? Já faz tantos anos.
O pior foi dito: o sonho morreu no segundo dia. Mataram-no juntos. Ele, por ser livre e sozinho. Ela, por permitir um nó da fantasia que deu o bote mais violento.
Estranharam-se mais e mais. O que há de errado em gostar? Só se não houvesse o gostar, ali.
"Adeus, obrigado por tudo. Adeus, gosto muito de você. Adeus, vim em busca de meu passado, do que é importante para mim. Adeus, foi muito bom te ver de novo. Adeus, não se esqueça de mim. Adeus, não espere por mim."
Pronto, estava lançada a sorte. A última frase foi o corte no coração da moça. Porque esperaria? Nunca esperou. Foi o acaso, o puro acaso dos encontros e desencontros. Mentira. Foi a busca pelo passado. Quem busca, alcança. E ele alcançou.
Se dizia: sou sozinho. Ela calava-se em pensamento: não é não. Contudo, respeitou sua tristeza; da vida injusta com ele. Só não entendeu a fome de liberdade que faz tão mal ao coração no seu mundo.
Não foi como imaginava, uma fábrica de sorrisos, afinal, já faz muitos anos. A vida, injusta com ele, causou estranhamento.E, a partir de então, a moça estava decidida que o livro ficaria fechado durante um bom período, para que lembranças fossem evitadas, trancadas. Lembrar demais não é sua fuga preferida.
Até hoje ninguém sabe bem se o que aconteceu foi verdade ou sonho. Não se sabe se existiu um ele e ela neste universo. A única certeza é que a vida continua, portanto, deve-se seguir em frente, percorrendo os caminhos mesmo que extremamente opostos.
O que podemos supor é que ele preferiu a companhia eterna de suas lembranças, enquanto ela, despediu-se de uma aventura. Uma paixão que poderia dar em filme com final feliz.
Sem se conhecerem inteiramente, a escolha foi o adeus.
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