quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A despedida

Os olhares eram compreensíveis. Melhor seria se não estivessem ali, na partida. No momento certo do encontro para partida. Ela sentia dor, mas prometera para si mesma que não choraria; nenhuma lágrima gastaria, nenhuma. Tentou ver graça pela última vez após descobrir que no fundo, bem lá no fundo, viam de forma equivalente, já que graça é beleza, beleza é graça, irmãs de dicionário. Apostou como ele não sabia, e nunca, talvez, lembrasse dessas palavras. Ou sempre, talvez, pois a surpresa da vida é tanta. As pessoas são imprevisíveis; e é por isso que há graça.
Como duas pedras, adeus. Já notavam-se estranhos e, enfim, compreenderam que o tempo dá o tempo ideal para cada detalhe. Se passa, é bom deixar gosto de não vivido; sem ousar viver. Mas seriam capazes de permitir não sentir um ao outro? Já faz tantos anos.
O pior foi dito: o sonho morreu no segundo dia. Mataram-no juntos. Ele, por ser livre e sozinho. Ela, por permitir um nó da fantasia que deu o bote mais violento.
Estranharam-se mais e mais. O que há de errado em gostar? Só se não houvesse o gostar, ali.
"Adeus, obrigado por tudo. Adeus, gosto muito de você. Adeus, vim em busca de meu passado, do que é importante para mim. Adeus, foi muito bom te ver de novo. Adeus, não se esqueça de mim. Adeus, não espere por mim."
Pronto, estava lançada a sorte. A última frase foi o corte no coração da moça. Porque esperaria? Nunca esperou. Foi o acaso, o puro acaso dos encontros e desencontros. Mentira. Foi a busca pelo passado. Quem busca, alcança. E ele alcançou.
Se dizia: sou sozinho. Ela calava-se em pensamento: não é não. Contudo, respeitou sua tristeza; da vida injusta com ele. Só não entendeu a fome de liberdade que faz tão mal ao coração no seu mundo.
Não foi como imaginava, uma fábrica de sorrisos, afinal, já faz muitos anos. A vida, injusta com ele, causou estranhamento.E, a partir de então, a moça estava decidida que o livro ficaria fechado durante um bom período, para que lembranças fossem evitadas, trancadas. Lembrar demais não é sua fuga preferida.
Até hoje ninguém sabe bem se o que aconteceu foi verdade ou sonho. Não se sabe se existiu um ele e ela neste universo. A única certeza é que a vida continua, portanto, deve-se seguir em frente, percorrendo os caminhos mesmo que extremamente opostos.
O que podemos supor é que ele preferiu a companhia eterna de suas lembranças, enquanto ela, despediu-se de uma aventura. Uma paixão que poderia dar em filme com final feliz.
Sem se conhecerem inteiramente, a escolha foi o adeus.

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